Tristeza

Abandono (revisado)

Ontem morreu a última das acácias.
Seguiu o destino dos outros abandonados.
Antes, foram alguns poemas,
algumas figuras, algumas cores.
Algum contentamento.

Na casa, nada mais ecoa.
Nenhum riso quebra o silêncio.
Tampouco algum choro,
pois estes secaram
como os rios que
os homens aterraram.

Os amores se foram.
Alguns lentamente.
Outros, com a urgência
de quem quer esquecer.
Deles, alguma lembrança ficou,
mas todos os rostos vão se fundindo
em apenas uma face distante.

Porque é que existo?

Sinto que nada sou
E que nada vou ser
Pois para onde vou
Nunca chego a aparecer

Se apareço, logo desapareço
Como algo que não existe
Até eu, de mim me esqueço
Sou alguém que só assiste

Porque é que vivo
Se o meu corpo morreu
Para nada sirvo
Nem sei, quem sou eu

Qual a razão de tudo isto
Se sou o inverso
Porque é que existo
Neste mundo perverso

O meu corpo jaz
Transforma-se em pó...
Já estou em paz,
Mas continuo tão só...

O Nada de Nós…

Existe um nada

Que preenche o espaço

Entre o meu olhar e o teu

 

Um nada que derrama

Uma sombra amargurada

Que sufoca uma angústia

Por nós teimosamente dissimulada…

 

Existe uma culpa

Por nenhum de nós reclamada

Arrogância doentia

Melhor pensar que não é nada…

 

E o nada vai crescendo

Entre o meu olhar e o teu

E a ferida nunca sara…

Do tanto que dói… do tanto que já doeu…

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