Fugir de mim

Nas promessas de vida breve encanto. encontro. quero fugir de mim e do pesadelo. lá está, já fui, já era, tu, magnífica catedral de luzes sem fim, brilhas tanto que dói olhar. é assim o sonho, é assim a primavera. estás a seguir-me? pergunto sem resposta. percebes o fio condutor? será que o há, ou será só a corda indefinida dos pensamentos ilógicos. dói saber do medo, mas sem medo não há vida. quero fugir mas não sei para onde. para o teu cheiro, murmuram-me as criaturas invisíveis. para o teu cheiro... tão doce que apetece mergulhar.

Da construção do ser

No espaço de tempo que passa entre dois segundos tanto se passa, é a relatividade do ser que faz vibrar as ondas do pensamento. No momento em que o olhar fita a estrela também as asas voam, o pássaro acorda. É irresistível esta vontade de partir sempre, sem destino algum. Como se a força motriz que move a cintura da terra viesse em nosso auxílio. É breve e perene o tempo, quando de tempo não se quer ouvir falar, o tempo essa invenção humana não quer saber das forças mortais e impele-nos para esse abismo mesmo sem nos aperceber-nos.

Ensaios na terra perto mar

A minha memória leva-me para junto do mar e o desafio da escrita impõe-se para transmitir o que sinto. É de manhã e o cheiro da areia molhada e a prata do sol refletido na água confere um brilho especial aos rostos das pessoas que por ali deambulam. É a pureza das manhãs solarengas. Vale a pena a paixão pela vida, viver como se nada mais importe do que a própria existência. Ser redundante na existência.Vale sempre a pena voltar aos sítios e absorver as diferenças. Viver sem objetivos marcados. Esta é a fórmula da felicidade enquanto fim último do ser humano.

E morreu a dor

Hoje faz anos que morreu a dor
Já não a encontro no olhar lânguido da invernia 
Todos os lugares tristes que por ela passaram são apenas memórias,
recordações esbatidas pelo decorrer do tempo
ali não quero voltar, apenas saber que ela existiu para não esquecer  
 
Em tempos queria fugir de mim, apagar o rasto das memórias infelizes
Hoje quero permanecer, acordar para os olhares brilhantes e límpidos  
das criaturas que habitam na água do mar

Plantemos música na paisagem

a paisagem é propícia à música
há um rio de palavras que se unem em forma de poema musical
há um mar de letras que aquecem as tardes frias de inverno 
é a arte da música, a única forma de não nos esquecermos 
que somos humanos, o sopro da identidade 
elevemo-nos pois ao éter, plantemos música na paisagem 

Há tanto de ti em mim

há tanto de ti em mim e ainda nem te conheço
reconheço-te nas brumas da madrugada, 
nas promessas de instantes que se avizinham  
adivinho-te em mim como um sopro de vida, 
como a única nota musical que se adequa ao momento 
tocada suavemente pelas teclas de um piano  
 
A música envolve os sentidos
há torrentes de notas mornas a escorregar 
pelas paredes, respira-se branda e cadentemente 
numa atmosfera de calor 

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