Poema de outrora

Poema de outrora

 

Quando me deito em prado verde

Sinto o olor das flores silvestres

Perfumarem meu rosto com seu afago

Adormeço profundamente em relva húmida

Ao som do cantar das cigarras

Desce sobre mim o céu azul

Tua voz serena me desperta

Quero apenas ler, ler o que não vejo

Encontrar o poder de voltar ao mundo

Que perdi, sem o viver

Procuro lembranças que não existem

Outrora não era o que parecia…

O sol é belo, dizem os pássaros

Desde o aconchego dos seus ninhos

Preciso de colo

Preciso de colo

 

E as horas passam lentas e compassadas

Meus olhos refletem a saudade em meu olhar

Preciso de colo…

Um colo que me afague a alma

Que me perfume o coração.

Este turbilhão que sinto

Necessita de ser mesclado de serenidade

Preciso contemplar as estrelas sem chorar

Beijar a lua em silêncio antes de me deitar

Preciso fazer-me de poeta

E libertar minhas emoções

Não entendo o mundo e suas gentes

Não me entendo a mim mesmo

Ao querer refugiar-me na solidão

Repouso da saudade

Repouso da saudade

 

Memorias arrancadas

No peito guardadas

Esperanças perdidas

De abraços teus

Olhos molhados

Rasgando rugas

Pensamento meu

Em versos se escondeu

Dor renitente rasga a alma

Sedenta de versos teus

Há poemas que beijam

Bocas silvestres

De luz intermitente

Na áurea terrestre

Refugio-me nos teus olhos

O teu olhar

O TEU OLHAR

 

Nos teus olhos

Que hoje já não me olham mais

Consigo ver o mundo que deixaste

A paz, a luz, a cor da vida

Consigo visualizar todo o amor

Que deixaste em mim

Pelos teus olhos

Vejo o mar que vais velejando

No céu do meu pensamento

E carrego o encantamento

Que a vida me ofereceu pela tua mão

Teu olhar tem a pulsação do amor

Teu olhar é orvalhado de ternura

Teu olhar é um poema de saudade

Teu olhar é um riacho sereno

O rio a chuva e eu

O rio, a chuva e eu

 

Chove intensamente

Apetece-me dormir

Mas nem durmo eu

Nem dorme o rio

Que beija as poldras

Entre mim e ele

Há um verso que nos une

Uma corrente que nos separa

Sinto cansaços, não sei porquê

Minha alma inquieta

Encosta-se ao leite do rio

A chuva beija-me a face

Molha meus cabelos sedentos

De carinhos teus

Meu coração inerte e fecundo

Faz-se poeta neste rio

De águas tranquilas

E neste leito abençoado

Pura inspiração

Pura inspiração!

 

Visto-me de cetim

Liberto parte da minha essência

E esqueço-me de mim

A vida não acontece

vai acontecendo...

É como o poema

Que nasce, morrendo

O tempo, esse ficou oxidado

Enferrujado de sentimentos

Visto-me de tédio

Minh`alma não se sente confortável

O sol das minhas noites

Não brilha, não tem cor

Medito no que escrevo

Abraço tudo o que é meu

O tempo corre sem tempo

Liberta meu coração prensado

Apenas saudade

Apenas saudade!

 

Como eram belos os dias

Da minha infância

O mundo era um sonho

Com perfume das flores silvestres

O mar era um riacho sereno

O céu sempre lindo

Vestido de estrelas bordadas

Adormecia sorrindo

E despertava encantada

Ó meu céu da liberdade

Que saudades eu tenho de ti

Daquela doce alegria ao romper do dia

Das estrelas cintilantes

E das noites de melodia

Sinto saudades daquele sol

Que brilhava e as crianças alegrava

O eu rio

O meu rio

 

Estão claras as águas do rio

Nelas me aconchego

Quando a memória de ti me alcança

Escondo-me debaixo de tamanha beleza

Num dócil e idóneo abrigo

Que é a esperança

As poldras repousam em águas cristalinas

Vislumbro o verde do campo

E o contraste das cores nesta primavera

Envergonhada entre a chuva e o sol

Estão claras as águas deste rio brando

As finas e formosas flores

São povoadas por borboletas de todas as cores

Os pássaros voam em bando

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