Sede dos sedentos
Autor: CharlesSilva on Tuesday, 29 October 2013Sede dos sedentos
Era pra ser apenas uma visitinha rápida e uma conversa informal, mas não foi. Dois sedentos não conseguem conversar a sós, acabam nus.
Charles Silva
Sede dos sedentos
Era pra ser apenas uma visitinha rápida e uma conversa informal, mas não foi. Dois sedentos não conseguem conversar a sós, acabam nus.
Charles Silva
HOJE
Hoje você estar em mim.
Hoje pensei tanto em ti que doeu ...
Doeu tua ausência e falta de nossa cumplicidade, mesmo na ausência de toques, de presença física...
Liberto-me das amarras do virtual
Percorro os caminhos do real
E mergulho na imensidão do verdadeiro
Ainda vens?
diz-me de uma vez,
o meu coração não suporta,
toda essa tua mudez...
diz-me por favor,
não me deixes nesta agonia,
preciso saber se desmancho de mim,
toda esta alegria...
Tirar dos olhos, a graça,
dos lábios este sorriso,
embrulhar-me na solidão,
dar-me à noite em improviso...
Será que ainda vens,
animar-te no meu amor,
contar as horas na minha pele,
e os minutos no meu calor...
Diz-me,
que eu quero saber,
Depois do Atlântico
Já conheço os passos dessa estrada, e não vou atravessar aquela velha ponte em ruínas. Vou cruzar uma represa a nado, é mais seguro e só dependo de mim mesmo. Então nos separamos, e eu tive que nadar um oceano. Mas cheguei lá, bem depois do oceano. Onde existe apenas o sol e o Atlântico.
Charles Silva
De qual África apareceste? De nenhum navio o vi pular nesta terra que nunca te acolheu, mas tenho em ti as mesmas insônias de absinto e ópio quando mato o repente ou na hora que dorme o silêncio nas palmas de deus. Pise estas ripas trêmulas folheando aquele pequeno poemeto de desequilíbrio no desregramento, para que após teu declame eu possa soletrar a minha poesia, feita de faces de quem nasceu errado, não sendo para o mundo, sendo amparo mudo da dor que tu botas-me.
Foi naquela uma hora de dia qualquer
Que a poesia foi incapaz de perdoar tal palavra.
Seus soluços voavam como pluma
Enquanto a pele chorava triste,
Sem coragem
Como mar em ressaca nas areias nubladas...
Deveria ousar o sofrido
Deveria assoprar mais o fino gemido,
Mas poemas assim gritam em fúria tanta,
Com ódio e assassinos...
Ouviu-se o lamento tangível da frase,
Outra prece veio
De nada adiantou.
O Encontro
* * * *
Fito desolado o papel em branco...
Sem nada para ver,
Sem nada para sentir…
É duro querer escrever
E a palavra recusar-se a sair!...
Em abono da verdade,
Até a caneta parece estar sem vontade
De acorrer ao apelo do papel.
O cérebro não está cá
E todos os meus sentidos
Estão como que entorpecidos.
A boca áspera sabe a fel
E as pernas estão dormentes,
De tanto esperarem nada.
Até a música me deixa indiferente
Nesta tarde gentia,
Danada
De fria!