Ainda vens?

Ainda vens?
diz-me de uma vez,
o meu coração não suporta,
toda essa tua mudez...
diz-me por favor,
não me deixes nesta agonia,
preciso saber se desmancho de mim,
toda esta alegria...
Tirar dos olhos, a graça,
dos lábios este sorriso,
embrulhar-me na solidão,
dar-me à noite em improviso...
Será que ainda vens,
animar-te no meu amor,
contar as horas na minha pele,
e os minutos no meu calor...
Diz-me,
que eu quero saber,

Depois do Atlântico

Depois do Atlântico

 

Já conheço os passos dessa estrada, e não vou atravessar aquela velha ponte em ruínas. Vou cruzar uma represa a nado, é mais seguro e só dependo de mim mesmo. Então nos separamos, e eu tive que nadar um oceano. Mas cheguei lá, bem depois do oceano. Onde existe apenas o sol e o Atlântico.

Charles Silva

Rimbaud escrito opium

De qual África apareceste? De nenhum navio o vi pular nesta terra que nunca te acolheu, mas tenho em ti as mesmas insônias de absinto e ópio quando mato o repente ou na hora que dorme o silêncio nas palmas de deus. Pise estas ripas trêmulas folheando aquele pequeno poemeto de desequilíbrio no desregramento, para que após teu declame eu possa soletrar a minha poesia, feita de faces de quem nasceu errado, não sendo para o mundo, sendo amparo mudo da dor que tu botas-me.

Palavras do Poeta

Foi naquela uma hora de dia qualquer
Que a poesia foi incapaz de perdoar tal palavra.
Seus soluços voavam como pluma
Enquanto a pele chorava triste,
Sem coragem
Como mar em ressaca nas areias nubladas...
Deveria ousar o sofrido
Deveria assoprar mais o fino gemido,
Mas poemas assim gritam em fúria tanta,
Com ódio e assassinos...

Ouviu-se o lamento tangível da frase,
Outra prece veio
De nada adiantou.

Poema da página em branco

* * * *

Fito desolado o papel em branco...
Sem nada para ver,
Sem nada para sentir…

É duro querer escrever
E a palavra recusar-se a sair!...

Em abono da verdade,
Até a caneta parece estar sem vontade
De acorrer ao apelo do papel.

O cérebro não está cá
E todos os meus sentidos
Estão como que entorpecidos.

A boca áspera sabe a fel
E as pernas estão dormentes,
De tanto esperarem nada.

Até a música me deixa indiferente
Nesta tarde gentia,
Danada
De fria!

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