Mandinga

Oxossì, Obalúaye, Òsúmàré, Ogum e Iansã

Me respondam, por favor, urgentemente:

De onde vem isso que já me faz dormente

Como quem está refém de uma febre tersã?

 

Dei agora para ouvir atabaques e tambores

Mesmo quando eu e minha’lma estamos sós

E nesta nativa sinfonia há o grave de uma voz

Cantando a força de mil esquecidos amores.

 

E agora deuses, o que faço: abro minhas velas

E viajo nas tintas da paixão destas aquarelas

Águas

Lembro que, maliciosamente, brinquei com teus pelos

E percorri com a ponta dos meus dedos tão maliciosos

Cada curva de cada pequeno seio teu – dons preciosos

Túrgidas e belas testemunhas da fome dos teus apelos.

 

Comi tua nudez. Amei cada um dos teus belos detalhes

E me adonei gostosamente de todas as tuas lindas vias.

Te vi chovendo. Borrasca de paixão, tu toda escorrias,

E qual rara peça esculpida, me expunhas teus entalhes.

 

E na tua boca sequiosa – desejo – eu me fiz teu alimento

Agonia

Agonia

Faz tão pouco, mas tão pouco tempo que nos separamos

Que ainda sinto nas mãos o cheiro do prazer que te dei

Que ainda tenho na retina todos os detalhes que gravei

Deste teu corpo lindo que vi, desde que nos amamos.

 

Foi ainda há pouco. Tanto que ainda trago na boca o sal

Que bebi de cada gota de suor que perolava em teu rosto

E sinto ainda um certo gosto que não conhecia – o gosto

Do vinho do amor apanhado da mais fina taça de cristal.

 

E tem sido assim o tempo pra mim: às vezes feliz demais

Acontece

Acontece

Olha, vê se me esquece. Tire da sua pele a lembrança

Do meu suor. E tente esquecer cada apaixonado grito

Que amando, me destes. E esqueça seu querer aflito

De me dar prazer bem antes do seu, em nossa dança.

 

Olha, vê se me esquece. Você tem que tirar da retina

A Um Mestre Sala Morto

A um Mestre-Sala Morto

 

A avenida agora está enormemente vazia e silenciosa

Refletores apagados. No chão, apenas alguns confetes

Olham silenciosas almas de pierrots, arlequins,valetes

E a descolorida bandeira que ontem tremulava graciosa.

 

O samba-enredo revelou-se pobre, perdeu a harmonia

De tanto, conseguiu fazer dolentemente calado o surdo

E o reco-reco, o tamborim e a cuíca – um naipe mudo

De há muito que estão sós e nus – perderam a fantasia.

 

AMANTES

Amantes

Ainda se podiam ouvir no ar as músicas natalinas. Lembro

Do vermelho vivo, botas e pom-pons dos bons papais-nóeis

E dos lindos presentes que te dei e recebi, coloridos papéis

Nosso Natal. Lembro muito bem – vinte e sete de dezembro.

 

Outra data linda – foi da obra prima da paixão um rascunho

Imortalizado na rosa, no beijo, no abraço, no fogo da cama

Nossa pele, nosso hálito, nosso prazer, nossa infinda chama

No nosso Dia dos Namorados – apenas só nosso 15 de junho.

 

Eu desejei e errei.

 

Eu desejei e errei.

 

Cheguei, onde sempre quis chegar,

Mesmo sem saber como ia chegar

Tendo apenas a certeza que iria!

E sem perceber ou ate mesmo sem saber como!

Eu estava lá,

Onde desejei!

Não nas formas que em minha mente fantasiava

Mas de forma real

Onde não pude perceber ha que hora tudo mudou.

Mas mudou, e reconhecer um desejo mesmo contrariado com ele!

Minhas formas eram diferentes e estar ali deveria ser feliz!

Pois sim, é uma vitoria.

Mas não vibrei.

Estranha sensação

Sentei-me no cimo da escada
numa noite de completa escuridão
senti-me inundada por uma magia
adormeci com essa sensação

Quando acordei olhei o mar
onde estava algo brilhante
que parecia chamar-me
por ser tão deslumbrante

Levantei-me e corri
para depressa lá chegar
até que no nada caí
já sem norte tentei planar

Quando o fundo avistei
fiquei tão apavorada
até que por fim acordei
e estava no fundo da escada

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