VERSOS IGUAIS
Autor: SÉRGIO TEIXEIRA on Friday, 11 January 2013
Porque anda o mundo todo enfurecido,
Se esforços contra Deus são todos vãos?
Os grandes, mais os reis, deram as mãos
Contra o Senhor, contra o seu Ungido,
--Estas correntes, é despedaçal-as,
Este jugo atirar com elle fóra!
E lá cima no céo, o que lá mora
Não faz mais que sorrir-se de taes fallas.
Mas em lhe dando a ira, aonde então
Se hão-de metter, com medo, os desgraçados!
Coroou-me rei no alto de Sião,
Cumpre-me publicar os seus mandados.
Bemdito o que não cahe em se guiar
Por conselhos de gente depravada;
E em vendo que vai mal, muda de estrada,
E nunca se demora em mau lugar;
Que o seu empenho é só unicamente
A lei de Deus, que estuda noite e dia.
Como a arvore ao pé d'agua corrente,
Dá a seu tempo o fructo que devia.
Nunca lhe cahe a folha; empresa sua
Sahe por força conforme o seu intento;
Em quanto o impio, o mau trabalha e sua,
E é sempre como o pó, que espalha o vento!
(A Betencourt Rodrigues)
Vaes a enterrar nas hervas verde-escuras,
Na fria terra, ó santa, que devias
Não ter roçado estas paixões impuras,
E estas lepras,--irmã das cotovias!
Vaes a enterrar sob as folhagens frias,
--Vóz alegre, rir cheio de doçuras!
Ó lindo coração! que só te abrias
Para a dôr das alheias amarguras!...
Vão-te levar á terra, ó casto e amado!--
Mas olha!--os vegetaes tem mais cuidado
Dos seios virginaes do que a paixão!...
No principio eram mais doces os olhares
Socegados de Deus!
Era mais verde o manto destes mares
E mais azues os ceus!
Não tinha nuvens este sol na rota,
Nem tormentas o Sul,
Nem era, como o olhar d'um idiota,
Impassivel o azul!
Não choravam no val escuros casos,
Á noute, os tristes ventos!
Nem eram como hoje, nos occasos,
Os ceus sanguinolentos!
Pastor do monte, tão longe de mim com as tuas ovelhas
Que felicidade é essa que pareces ter — a tua ou a minha?
A paz que sinto quando te vejo, pertence-me, ou pertence-te?
O poder é dado apenas para aqueles que se atrevem a reduzir-se e buscá-lo. Só uma coisa importa, uma coisa, ser capaz de ousar!
MERINA Rosto comprido, airosa, angelical, macia, Por vezes, a allemã que eu sigo e que me agrada, Mais alva que o luar de inverno que me esfria, Nas ruas a que o gaz dá noites de ballada; Sob os abafos bons que o Norte escolheria, Com seu passinho curto e em suas lãs forrada, Recorda-me a elegancia, a graça, a galhardia De uma ovelhinha branca, ingenua e delicada.