CICLO 21
Autor: Jamila Mafra on Tuesday, 8 January 2013
Aquilo que meus olhos veem me leva para lugares onde nunca quis estar.
O que são essas flores? Quem são essas pessoas? Por que continuam aqui?
A tristeza é suportável, mas me dói tanto...
Contudo, seguro minha solidão como uma coluna que tarda em desfalecer.
Me sinto como se o chão estivesse confuso e turvo, como o lodo de um pântano.
Pelas altas horas, me vejo atravessando lugares que não visitei.
Guardarei comigo aquilo que me fere.
Tratarei com cortesia e paciência.
Suppõe que d'uma praia, rocha ou monte,
Com essa vista embaciada e turva
Que dá aos olhos entranhavel dôr;
Tinhas podido vêr transpôr a curva,
Pouco a pouco, do liquido horisonte,
A saudosa barca, que levasse
Aquelle, a quem primeiro uniste a face
E o teu primeiro amor!
Nenhum corpo mais lacteo e sem defeito
Mais roseo, esculptural e femenino,
Pode igualar-se ao seu, branco e divino
Immovel, nù, sobre o comprido leito!--
Nada te eguala! O ferro do assassino
Podia, hoje, matal-a, que o meu peito
Seria o esquife embalsamado e fino
D'aquelle corpo sem rival, perfeito.
Por isso é muito altiva e apetecida;--
E o goso sensual de a vêr vencida
Ha de ser forte, extranho e singular...
O único mistério do Universo é o mais e não o menos.
Percebemos demais as cousas — eis o erro, a dúvida.
O que existe transcende para mim o que julgo que existe.