NÃO PAREM A SERRA ELÉTRICA
Autor: Jamila Mafra on Sunday, 6 January 2013
Você chega
E eu me tranco no quarto
Pra não te ouvir e nem te ver,
Eu não suporto mais você,
Você chega
E eu me tranco no quarto
Pra não te ouvir e nem te ver,
Eu não suporto mais você,
Deixa-me falar-te agora dos segredos
Que carrego.
Vou falar-te sobre a transmutação
Das plantas.
Do trigo em oiro e do lírios em diamantes.
Vou descrever-te o nome que o luar
Trás à solidão da memória
E o calor das mãos feitas sol.
Aqui, neste lugar onde o incenso
Se liberta da vida, o mar
Não para de se fazer sentir
Em cada célula que se descobre
Em nós.
E de mãos enlaçadas
Caminhamos de cabeça erguida
Na procura do lugar que um dia
Desenhámos.
Viver na solidão de um mundo imaginário,
Que é meu e de mais ninguém,
Nas profundezas de um aquário,
Onde não sou tratada com desdém.
Lá sou um ser minúsculo e mitológico,
Onde tudo é novo e pronto a explorar,
Para os outros, pode não ser lógico,
Mas criei-o para ter onde me refugiar.
Refugiar-me deste mundo sem união,
Onde vive cada um por si, estão a pisar
E não querem saber quem está no chão,
O que interessa é que eles vão vingar!
Não tinha onde escrever,
Então escrevi em ti,
Para não esquecer
Tudo aquilo que senti.
Quando te estava a ler
Meu inconsciente viajou ,
No teu interior foi viver
O meu corpo abandonou.
Fiz da tua a minha história
Com momentos de ternura,
E conquistei a minha glória
Num momento de bravura.
Regressei à realidade
Quando te acabei de ler,
Mas ficou a vontade
De um dia te reler.
Hoje ela chegou sorrateira,
Não a percebo a caminho,
Só a sinto quando, de tão próxima,
Pode apertar-me o peito.
Fazendo-o, deixa-me sem fôlego,
Sem ânimo,
Numa tristeza que me toma a vontade dos dias.
Chega a mim atraída pela saudade,
Pela vontade comedida,
Pelo querer interdito de voltar ao meu deleite.
Ah! Se não me houvessem os medos,
Se longe de mim a insegurança,
Se o mudar não me fosse penoso,
Tu não me eras companheira, Tristeza,
Hoje.**
Mulher! quando nos braços
Te escuto uma canção,
Não vês em meus abraços
Profunda commoção?
É que o teu canto á mente
Me traz vida melhor...
Ah!
Cantai continuamente,
Cantai, oh meu amor!
Quando sorris, assume
Teu rosto uma expressão,
Que o mais feroz ciume
Se desvanece então.
Sorriso tal desmente
Um coração traidor...
Ah!
Sorri continuamente,
Sorri, oh meu amor!
A Silva Qinto
Eu não amo ninguem. Tambem no mundo
Ninguem por mim o peito bater sente,
Ninguem entende meu sofrer profundo,
E rio quando chora a demais gente.
Vivo alheio de todos e de tudo,
Mais callado que o esquife, a Morte e as lousas,
Selvagem, solitario, inerte e mudo,
--Passividade estupida das Cousas.
Fechei, de ha muito, o livro do Passado
Sinto em mim o despreso do Futuro,
E vivo só commigo, amortalhado
N'um egoismo barbaro e escuro.
Os bosques para mim são como catedraes,
Com organs a ulular, incutindo pavor...
E os nossos corações, - jazidas sepulcraes,
De profundis também soluçam, n'um clamor.
Odeio do oceano as iras e os tumultos,
Que retratam minh'alma! O riso singular
E o amargo do infeliz, misto de pranto e insultos,
É um riso semelhante ao do soturno mar.
Ai! como eu te amaria, ó Noite, caso tu
Pudesses alijar a luz que te constéia,
Porque eu procuro o Nada , o Tenebroso, o Nu!
Os pastores de Virgílio tocavam avenas e outras cousas
E cantavam de amor literariamente.
(Depois — eu nunca li Virgílio.