NOIVA
Autor: Augusto Gil on Friday, 28 December 2012_A João da Silva_
«Anda a dôr dissimulada
Mas ella dará seu fruito.»
Crisfal
«_Vae ser pedida. Casa qualquer dia._»
(_Trecho duma carta_)
Tive noticias hoje a teu respeito:
«Vae ser pedida. Casa qualquer dia».
E o coração tranquillo no meu peito
--Continuou a bater como batia...
Surpreso duma tal serenidade,
Todo eu, intimamente, me sondava:
Pois nem ciume? Nem sequer saudade?!
--E nem ciumes, nem saudade achava...
DESCALÇA!
Autor: João de Deus on Friday, 28 December 2012 Quem és, que ao vêr-te o coração suspira,
E em puro amor desfaz-se!
Raio crepuscular do sol que nasce,
De lampada que expira!
Como os teus pés são lindos! como é dôce
A curva do teu peito!
Oh! se o meu coração fosse o teu leito,
E o teu amado eu fosse!
Que preciosas perolas descobre
Teu meigo humido labio!
E, virgem! como Deus foi justo e sabio
Em te fazer tão pobre!
*AQUELLA ORGIA*
Autor: Gomes Leal on Friday, 28 December 2012Nós eramos uns dez ou onze convidados,
--Todos buscando o gozo e achando o abatimento,
E todos afinal vencidos e quebrados
No combate da Vida inutil e incruento.
Tocava o termo a ceia--e ia surgindo o alvor
Da madrugada vaga, etherea e crystallina,
A alguns trazendo a vida, e enchendo outros de horor,
Branca como uma flor de prata florentina.
Todos riam sem causa.--A estolida batalha
Da Materia e da Luz travara-se afinal,
E eram já côr de vinho os risos e a toalha,
--E arrojavam-se ao ar os copos de crystal.
O maestro sacode a batuta
Autor: Alberto Caeiro on Friday, 28 December 2012
O maestro sacode a batuta,
A lânguida e triste a música rompe ...
Lembra-me a minha infância, aquele dia
Logica
Autor: António Nobre on Thursday, 27 December 2012 Ai d'aquelles que, um dia, depozeram
Firmes crenças n'um bem que lhes voou!
Ai dos que n'este mundo ainda esperam!
Terão a sorte de quem já esperou...
Ai dos pobrinhos, dos que já tiveram
Oiro e papeis que o vento lhes levou!
Ai dos que tem, que ainda não perderam,
Que amanhã, serão pobres como eu sou.
Ai dos que, hoje, amam e não são amados,
Que, algum dia, o serão, mas sem poder!
Ai dos que soffrem! ai dos desgraçados
Como Desejava Ter-te Aqui
Autor: Fátima Carmo on Thursday, 27 December 2012Há tanto tempo não te via,
Já nem pensava em ti,
Encontrei-te noutro dia
E o passado revivi
Acordaste o sentimento
Que há muito adormeci,
Voltou meu sofrimento
Porque só penso em ti
Estava em ti a pensar,
No meio de tanta gente,
Pensei estar a delirar,
Quando ficámos frente a frente
Meu coração disparou
Num ritmo alucinado,
Será que alguém reparou
No meu olhar apaixonado
O MUNDO VAI ACABAR
Autor: billy brasil on Thursday, 27 December 2012INSÔNIA
Autor: silute on Thursday, 27 December 2012Não dormi
Apenas fechei os olhos,
Senti o teu corpo inteiro,
Com cheiro de madeira
Com gosto de hortelã;
Toquei-te...
Em minha imaginação,
Meu pensamento fez o caminho
Da tua anatomia
Ah! Que adrenalina!
Bebi da seiva de sua boca
No ósculo que te dei.
Banhei-me nas águas cristalinas,
Do teu transpirar,
Em suas mãos quase desfaleci
No arrebatamento da suavidade do seu toque.
Abracei-te...
E seu cheiro de homem
MÃOS FRIAS CORAÇÃO QUENTE
Autor: Augusto Gil on Thursday, 27 December 2012Dez da manhã. Vento da
serra. Tres graus negativos
_Mãos frias, coração quente_!
Quanta vez isto dizias
Com o teu ar sorridente,
Apertando-me as mãos frias...
Agora decerto o tenho
Num brazeiro, num vulcão.
O frio é tanto, é tamanho
Que a penna cae-me da mão...
Q'ria dizer-te o que penso
E o que faço e premedito,
Mas posso lá ser extenso
Com este frio maldito!
Tu perdoas certamente,
Tu não te zangas, pois não?
_Mãos frias, coração quente_
--Lá diz o velho rifão...