Canção

Melodia

Estava escrito na pauta de Dó a Ré, tu completavas com o Mi e num sorriso feliz o som fluia em mim.

Só tu entendias a canção, só tu lhe davas o ritmo certo.

Em jeito de música o meu corpo balançava na melodia e os teus sentidos encaixavam na partitura agora em suspenso, no nosso silêncio.

Uma Pintura Tua Em Meu Painel

Uma ousadia quase discreta
Uns lábios de favo de mel
Um corpo que tanto te enfeita
Aguardando por ti ardil e fiel
Um abdome valeroso como níquel
Um poema sou, da tua caneta

Um olhar ágil como atleta
Um anjo que vende teu cordel
Um amor bomba que não rebenta
Uma Pintura Tua Em Meu Painel
Uma alma de papel que fez teu pincel
Um homem teu, que te completa

Um Mar Sem Ti

Um mar sem ti
bate-o o vazio
do canto búzio
que nunca ouvi.
Beijam rochas
mesmas espumas
e jamais perfumas
como tuas coxas

Arrastando vão
num tanto não pouco
tudo do meu corpo
até o meu coração.
Às forças levado é
pelas ondas tuas
sem igual, nuas
que mais ninguém vê

Um nada igual á mim
de versos de sereias
escritos nas areias
do teu amor que advim.
A cada grão evapora
no passeio das ondas
de saudades fecundas
por ti, nesta igual hora

Mesa Que Canta Penúrias

D'estômago gordo de secura
Partilham a água que é dádiva
E o sagrado pão que posto é...
Na Mesa Que Canta Penúrias

Vestida de triste pele nua
Lábios secos molham sorrisos
Prefulgem esperanças nos "dizos"
Da Ngola, que a dor não atenua
E ainda preparado vê-se crua
Triste, posto é... comidas frias
Na Mesa Que Canta Penúrias

António Vicente Aposiopese

Cantando a dor da Somália!

* "Dizos"=dentes. Língua nacional Angolana (Kimbundo)

Cantam Arcanjos

Tocam sinos de te ver chegar
Cantam Arcanjos a sua vinda
Jubilam as mãos que te querem pegar
Tua presença move e faz nova vida
No coração de quem te quer tanto amar
No teu seio achou-sé a alma perdida
E milagrosa felicidade vieste dar
Nesta data em que belo cantou teu vagido
Mudaste a vida de muitos, o mundo !

António Vicente Aposiopese

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