Geral

CIDADE

 

Sou um efêmero e não muito descontente cidadão de uma metrópole que

julgam moderna porque todo estilo conhecido foi excluído das mobílias e do

exterior das casas bem como do plano da cidade. Aqui você não nota rastros

de nenhum monumento de superstição. A moral e a língua estão reduzidas às

expressões mais simples, enfim! Estes milhões de pessoas que nem têm

necessidade de se conhecer levam a educação, o trabalho e a velhice de um

modo tão igual que sua expectativa de vida é muitas vezes mais curta do que

Apagão

 

É comum o sapo morrer na lagoa.
O mendigo comer lixo na sarjeta 
O tráfico de entorpecentes nas escolas, 
A fila quilométrica do INSS fazendo curva na rua estreita
O moleque desde a tenra idade viciado em cola.

É comum a violência subjugar a lei. 
A mãe com uma “penca” de filhos no semáforo pedindo esmolas 
O inocente ser refém da mesma grei,
Os filhos desesperados do desemprego 
os escravos das drogas.

É natal

 

Vejo anjos brincando na chuva.

Uma nuvem alvinha sobre meus olhos flutuar

Crianças vestidas de ternos e luvas...

Em noites brilhantes a bailar. 

É natal! Exclama no céu azul uma estrela pequenina.

E na terra... Tão ferida pela guerra, e desamor,

Pelo o egoísmo, e pela dor.

Nasce luz... A paz gloriosa que a todos sublima. 

Por um instante os homens reconhecem seus vis retratos.

Não se veem mais mendigos nas esquinas

O soar inflamado das tribunas “cretinas”

SEGUNDO PSALMO DE DAVID

    Porque anda o mundo todo enfurecido,
    Se esforços contra Deus são todos vãos?
    Os grandes, mais os reis, deram as mãos
    Contra o Senhor, contra o seu Ungido,

    --Estas correntes, é despedaçal-as,
    Este jugo atirar com elle fóra!
    E lá cima no céo, o que lá mora
    Não faz mais que sorrir-se de taes fallas.

    Mas em lhe dando a ira, aonde então
    Se hão-de metter, com medo, os desgraçados!
    Coroou-me rei no alto de Sião,
    Cumpre-me publicar os seus mandados.

PRIMEIRO PSALMO DE DAVID

Bemdito o que não cahe em se guiar
    Por conselhos de gente depravada;
    E em vendo que vai mal, muda de estrada,
    E nunca se demora em mau lugar;

    Que o seu empenho é só unicamente
    A lei de Deus, que estuda noite e dia.
    Como a arvore ao pé d'agua corrente,
    Dá a seu tempo o fructo que devia.

    Nunca lhe cahe a folha; empresa sua
    Sahe por força conforme o seu intento;
    Em quanto o impio, o mau trabalha e sua,
    E é sempre como o pó, que espalha o vento!

*NO ENTERRO D'UM CORAÇÃO*

(A Betencourt Rodrigues)

Vaes a enterrar nas hervas verde-escuras,
Na fria terra, ó santa, que devias
Não ter roçado estas paixões impuras,
E estas lepras,--irmã das cotovias!

Vaes a enterrar sob as folhagens frias,
--Vóz alegre, rir cheio de doçuras!
Ó lindo coração! que só te abrias
Para a dôr das alheias amarguras!...

Vão-te levar á terra, ó casto e amado!--
Mas olha!--os vegetaes tem mais cuidado
Dos seios virginaes do que a paixão!...

*A LENDA DAS ROSAS*

No principio eram mais doces os olhares
      Socegados de Deus!
Era mais verde o manto destes mares
      E mais azues os ceus!

Não tinha nuvens este sol na rota,
      Nem tormentas o Sul,
Nem era, como o olhar d'um idiota,
      Impassivel o azul!

Não choravam no val escuros casos,
      Á noute, os tristes ventos!
Nem eram como hoje, nos occasos,
      Os ceus sanguinolentos!

NOITES GELIDAS

 

MERINA

Rosto comprido, airosa, angelical, macia,
Por vezes, a allemã que eu sigo e que me agrada,
Mais alva que o luar de inverno que me esfria,
Nas ruas a que o gaz dá noites de ballada;
Sob os abafos bons que o Norte escolheria,
Com seu passinho curto e em suas lãs forrada,
Recorda-me a elegancia, a graça, a galhardia
De uma ovelhinha branca, ingenua e delicada.

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