NOITE FECHADA
Autor: Cesário Verde on Friday, 11 January 2013
Tu, n'esse corpo completo, Ó lactea virgem doirada, Tens o lymphatico aspecto D'uma camelia melada.
(A UMA SENHORA QUE NÃO QUER SER EMILIA)
Emilia és, quer queiras, ou não queiras:
Que lindo nome o teu, soante de brizas!
É um nome de pastoras e moleiras,
Loira morgada do solar dos Nizas!
Muitas Emilias ha, entre ceifeiras,
Ha Emilias nos serões das descamizas...
Se tu, Senhor! dás nome ás Amendoeiras
Com o nome de Emilia é que as baptizas!
Que Santa Emilia te acompanhe, Rainha!
E com a tua Mãe seja madrinha,
Quando ella, um dia, te levar á Igreja!
E eu te beijava
Sou um efêmero e não muito descontente cidadão de uma metrópole que
julgam moderna porque todo estilo conhecido foi excluído das mobílias e do
exterior das casas bem como do plano da cidade. Aqui você não nota rastros
de nenhum monumento de superstição. A moral e a língua estão reduzidas às
expressões mais simples, enfim! Estes milhões de pessoas que nem têm
necessidade de se conhecer levam a educação, o trabalho e a velhice de um
modo tão igual que sua expectativa de vida é muitas vezes mais curta do que
É comum o sapo morrer na lagoa.
O mendigo comer lixo na sarjeta
O tráfico de entorpecentes nas escolas,
A fila quilométrica do INSS fazendo curva na rua estreita
O moleque desde a tenra idade viciado em cola.
É comum a violência subjugar a lei.
A mãe com uma “penca” de filhos no semáforo pedindo esmolas
O inocente ser refém da mesma grei,
Os filhos desesperados do desemprego
os escravos das drogas.
Vejo anjos brincando na chuva.
Uma nuvem alvinha sobre meus olhos flutuar
Crianças vestidas de ternos e luvas...
Em noites brilhantes a bailar.
É natal! Exclama no céu azul uma estrela pequenina.
E na terra... Tão ferida pela guerra, e desamor,
Pelo o egoísmo, e pela dor.
Nasce luz... A paz gloriosa que a todos sublima.
Por um instante os homens reconhecem seus vis retratos.
Não se veem mais mendigos nas esquinas
O soar inflamado das tribunas “cretinas”
Porque anda o mundo todo enfurecido,
Se esforços contra Deus são todos vãos?
Os grandes, mais os reis, deram as mãos
Contra o Senhor, contra o seu Ungido,
--Estas correntes, é despedaçal-as,
Este jugo atirar com elle fóra!
E lá cima no céo, o que lá mora
Não faz mais que sorrir-se de taes fallas.
Mas em lhe dando a ira, aonde então
Se hão-de metter, com medo, os desgraçados!
Coroou-me rei no alto de Sião,
Cumpre-me publicar os seus mandados.
Bemdito o que não cahe em se guiar
Por conselhos de gente depravada;
E em vendo que vai mal, muda de estrada,
E nunca se demora em mau lugar;
Que o seu empenho é só unicamente
A lei de Deus, que estuda noite e dia.
Como a arvore ao pé d'agua corrente,
Dá a seu tempo o fructo que devia.
Nunca lhe cahe a folha; empresa sua
Sahe por força conforme o seu intento;
Em quanto o impio, o mau trabalha e sua,
E é sempre como o pó, que espalha o vento!
(A Betencourt Rodrigues)
Vaes a enterrar nas hervas verde-escuras,
Na fria terra, ó santa, que devias
Não ter roçado estas paixões impuras,
E estas lepras,--irmã das cotovias!
Vaes a enterrar sob as folhagens frias,
--Vóz alegre, rir cheio de doçuras!
Ó lindo coração! que só te abrias
Para a dôr das alheias amarguras!...
Vão-te levar á terra, ó casto e amado!--
Mas olha!--os vegetaes tem mais cuidado
Dos seios virginaes do que a paixão!...