Geral

O Teu Retrato

    Deus fez a noite com o teu olhar,
    Deus fez as ondas com os teus cabellos;
    Com a tua coragem fez castellos
    Que poz, como defeza, á beira-mar.

    Com um sorriso teu, fez o luar
    (Que é sorriso de noite, ao viandante)
    E eu que andava pelo mundo, errante,
    Já não ando perdido em alto-mar!

    Do ceu de Portugal fez a tua alma!
    E ao vêr-te sempre assim, tão pura e calma,
    Da minha Noite, eu fiz a Claridade!

ESCREVE!

Não sei o que suppôr
    Do teu silencio. Escreve!
    Quem é amado deve
    Ser grato ao menos, flôr!
      Se eu fosse tão feliz
    Que te fallasse um dia
    De viva voz, diria
    Mais do que a carta diz.
      Mas, olha, tal qual é
    Não rias d'esse escripto
    Que, pouco ou muito, é dito
    Tudo de boa fé.
      Ha n'esse teu olhar
    A dôce luz da lua,
    Mas luz que se insinua
    A ponto de abrazar...
      Pareça n'elle sim

*CARTA AO MAR*

Ó ondas fugitivas!...
     (Camões)

Deixa escrever-te, verde mar antigo,
Largo Oceano, velho deus limoso,
Coração sempre lyrico, choroso,
E terno visionario, meu amigo!

Das bandas do poente lamentoso
Quando o vermelho sol vae ter comtigo,
--Nada é mais grande, nobre e doloroso,
Do que tu,--vasto e humido jazigo!

Nada é mais _triste_, tragico e profundo!
Ninguem te vence ou te venceu no mundo!...
Mas tambem, quem te poude consollar?!

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