E Eu te Beijava
Autor: Federico García... on Friday, 11 January 2013E eu te beijava
E eu te beijava
Sou um efêmero e não muito descontente cidadão de uma metrópole que
julgam moderna porque todo estilo conhecido foi excluído das mobílias e do
exterior das casas bem como do plano da cidade. Aqui você não nota rastros
de nenhum monumento de superstição. A moral e a língua estão reduzidas às
expressões mais simples, enfim! Estes milhões de pessoas que nem têm
necessidade de se conhecer levam a educação, o trabalho e a velhice de um
modo tão igual que sua expectativa de vida é muitas vezes mais curta do que
É comum o sapo morrer na lagoa.
O mendigo comer lixo na sarjeta
O tráfico de entorpecentes nas escolas,
A fila quilométrica do INSS fazendo curva na rua estreita
O moleque desde a tenra idade viciado em cola.
É comum a violência subjugar a lei.
A mãe com uma “penca” de filhos no semáforo pedindo esmolas
O inocente ser refém da mesma grei,
Os filhos desesperados do desemprego
os escravos das drogas.
Vejo anjos brincando na chuva.
Uma nuvem alvinha sobre meus olhos flutuar
Crianças vestidas de ternos e luvas...
Em noites brilhantes a bailar.
É natal! Exclama no céu azul uma estrela pequenina.
E na terra... Tão ferida pela guerra, e desamor,
Pelo o egoísmo, e pela dor.
Nasce luz... A paz gloriosa que a todos sublima.
Por um instante os homens reconhecem seus vis retratos.
Não se veem mais mendigos nas esquinas
O soar inflamado das tribunas “cretinas”
Porque anda o mundo todo enfurecido,
Se esforços contra Deus são todos vãos?
Os grandes, mais os reis, deram as mãos
Contra o Senhor, contra o seu Ungido,
--Estas correntes, é despedaçal-as,
Este jugo atirar com elle fóra!
E lá cima no céo, o que lá mora
Não faz mais que sorrir-se de taes fallas.
Mas em lhe dando a ira, aonde então
Se hão-de metter, com medo, os desgraçados!
Coroou-me rei no alto de Sião,
Cumpre-me publicar os seus mandados.
Bemdito o que não cahe em se guiar
Por conselhos de gente depravada;
E em vendo que vai mal, muda de estrada,
E nunca se demora em mau lugar;
Que o seu empenho é só unicamente
A lei de Deus, que estuda noite e dia.
Como a arvore ao pé d'agua corrente,
Dá a seu tempo o fructo que devia.
Nunca lhe cahe a folha; empresa sua
Sahe por força conforme o seu intento;
Em quanto o impio, o mau trabalha e sua,
E é sempre como o pó, que espalha o vento!
(A Betencourt Rodrigues)
Vaes a enterrar nas hervas verde-escuras,
Na fria terra, ó santa, que devias
Não ter roçado estas paixões impuras,
E estas lepras,--irmã das cotovias!
Vaes a enterrar sob as folhagens frias,
--Vóz alegre, rir cheio de doçuras!
Ó lindo coração! que só te abrias
Para a dôr das alheias amarguras!...
Vão-te levar á terra, ó casto e amado!--
Mas olha!--os vegetaes tem mais cuidado
Dos seios virginaes do que a paixão!...
No principio eram mais doces os olhares
Socegados de Deus!
Era mais verde o manto destes mares
E mais azues os ceus!
Não tinha nuvens este sol na rota,
Nem tormentas o Sul,
Nem era, como o olhar d'um idiota,
Impassivel o azul!
Não choravam no val escuros casos,
Á noute, os tristes ventos!
Nem eram como hoje, nos occasos,
Os ceus sanguinolentos!
Pastor do monte, tão longe de mim com as tuas ovelhas
Que felicidade é essa que pareces ter — a tua ou a minha?
A paz que sinto quando te vejo, pertence-me, ou pertence-te?