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O BREJO

É um brejo

Ou só um brejo,

Mas não deixa de ser um brejo,

Um brejo que me parou.

Vejo a lagoinha acima refletindo a paisagem,

O sol, o céu de poucas nuvens, uns insetos,

Uns bichos estão em algazarra.

Dali para baixo,

No barro ressequido,

As pegadas de vacas,

De bois — do retireiro

— fazem um trilho para o nada.

Suspeito que eu, ali, — no brejo — já tenha passado.

Mas não lembro,

Ou não entendo,

Ou tenha ficado,

Naquele brejo.

Ou só naquele brejo.

Levitar

Queria eu voar entre as arvores

E Sentir o Aroma do Amanhã..

Queria eu Tocar o Céu
Como as Nuvens que Vagão Dia após Dia..
Queria Eu Ser Como a Lua ..
Mesmo sem brilho próprio
Ilumina o Coração dos Apaixonados ..

Quando Ninguém Mais Te Vê

Sentado na calçada,

Reconheço todos que passam.

Alguns nunca voltam,

Outros estão muito animados,

Muitos, nervosos ou impassíveis,

Todos me são familiares.

Nas suas costumeiras idas e vindas,

Às vezes me jogam uma moeda,

E nem percebem,

Muito menos me reconhecem.

A cidade, de novo, é pequena,

Fui embora, mas voltei,

Depois de alguns meses.

Nem minha filha — nem minha esposa

Sabe que quem está ali, à paisana,

É aquele por quem elas muito procuram.

Aliás, não procuram por mim,

½ Copo Cheio, ½ Copo Vazio

O copo estava mais pra vazio
Para uns,
O copo estava mais pra cheio 
Para outros.
Mais pra cheio de cólera,
De cócegas,
De café amargo,
De um doce chá-mate,
De nada,
De tudo,
De mágoa,
De pazes.
O copo era o homem,
Mais pra vazio de afeto,
De raiva,
De fé – também em sua capacidade,
De incerteza,
De alegria,
De esterilidade,

Pendura

Como se fosse meu café da manhã,

Tomo uma pinga,

Que queima minha garganta,

Mas seda os perigos.

Estamos eu e o dono do bar do interior

De Minas.

O bar ainda meio “abrido”,

E eu já entrando primeiro que o vento frio.

O mesmo vento que balança as árvores na praça do centro,

Corta na rua as poucas almas vivas.

Tomo outra pinga,

Agora para calar meu fígado,

Esquecer de dilemas rascantes,

Da mulher que se foi,

Do emprego que não vem,

Dos sessenta chegando,

Quem Era

A escuridão ainda inundava a estrada
Lanças flamejantes clareavam o asfalto?
Sim, não a minha ambivalência nas palavras.
E me ardiam os olhos miseráveis.
Para eu me ver pelo retrovisor estava mais difícil.
Queria saber quem ou o que era você,
Se você queria o meu amargo
Ou brincava com minha travestida tolice.
Por outro lado,
Pairava sua ambígua discórdia,
Se nos seria bom ou um lixo.
E, de qualquer forma,

O mundo está em guerra

O mundo está em guerra,

mas a paz reina na terra,

as madames em seus lares

ainda escrevem sobre o amor,

enquanto escrevem sobre o amor,

estou escrevendo sobre a dor.

 

Escrevem sobre o amor próprio,

escrevem sobre o amor perdido,

enquanto o mundo está em caos,

tornando seus jovens mais frios.

 

Neste mundo que se desfaz

nos corações não encontra paz,

e eu estou a escrever

sobre a dor, sobre o que sei,

e eu estou a escrever

sobre a dor e sobre a paz.

 

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