Geral

*Os Sinos*

1

Os sinos tocam a noivado,
    No Ar lavado!
Os sinos tocam, no Ar lavado,
    A noivado!

Que linda criança que assoma na rua!
    Que linda, a andar!
Em extasi, o povo commenta que é a Lua,
    Que vem a andar...

Tambem, algum dia, o povo na rua,
    Quando eu cazar,
Ao ver minha noiva, dirá que é a Lua
    Que vae cazar...

2

E o sino toca a baptizado
    Que lindo fado?
E o sino toca um lindo fado,
    A baptizado!

LYRA VII.

Vou retratar a Marilia,
A Marilia meus amores;
Porém como, se eu não vejo
Quem me empreste as finas cores!
Dar-mas a terra não póde;
Não que a sua côr mimosa
Vence o lyrio, vence a rosa:
O jasmim, e as outras flores.
    Ah soccorre, Amor, soccorre
    Ao mais grato empenho meu!
    Vôa sobre os Astros, vôa,
    Traze-me as tintas do Ceo.

ROSA E ROSAS

    A Rosa trouxe-me rosas
    E nada mais natural,
    Mas eu prendas tão mimosas
    É que não tenho; inda mal.

    Quando tinha, se me désse,
    Não digo mais que uma flôr,
    Talvez de flôres lhe enchesse
    Esses cofrinhos d'amor.

    Aguas passadas, Rosinha!
    Deixal-o; veja se vê
    N'este chão que já foi vinha
    Coisa que ainda se dê.

    Veja e escolha. Está na mesa
    O que ha em casa; é tirar
    --Tirar com toda a franqueza;
    Inda hão-de espinhos sobrar.

A Musa Enferma

Ó minha musa, então! que tens tu, meu amor?
Que descorada estás! No teu olhar sombrio
Passam fulgurações de loucura e terror;
Percorre-te a epiderme em fogo um suor frio.

Esverdeado gnomo ou duende tentador,
Em teu corpo infiltrou, acaso, um amavio?
Foi algum sonho mal, visão cheia de terror,
Que assim te magoou o teu olhar macio?

Eu quisera que tu, saudável e contente.
Só nobres idéias abrigasses na mente,
E que o sangue cristão, ritmado, te pulsara

_A' Illustrissima, e Excellentissima Senhora Marqueza de Alegrete, quando lhe nasceo huma Filha_.

Senhora, he couza sabida,
Que aos Deozes não são vedados
Os escondidos segredos
Do escuro livro dos Fados;

E pois que em tempos antigos
Já tive alguma valia
Co'aquelle, a quem coube em forte
O governo da Poezia;

Não esperando do Tempo
O vagarozo progresso,
E desejando augurar-vos
O vosso feliz successo;

Na raiz do alto Parnazo,
Curvando o humilde joelho,
Exclamei = Se aqui se escutão
Votos de hum Poeta velho,

*Abandonado!*

      Uma fita prendi côr de saphira
      No leve, tenue pé d'uma andorinha;
      Este anno regressou a pobresinha
      E junto ao ninho seu constante gira.

      Quando o sol no horisonte se retira
      Esvoaça em redor de mim sósinha;
      Tambem esta alma, soffrega, mesquinha
      Por ti enfeitiçada geme, expira.

      Ella na espuma branca, qual arminho
      Foge no mar á raiva dos açores
      Não perdendo a lembrança do seu ninho

Minha Boêmia (Fantasia)

Lá ia eu, de mãos nos bolsos descosidos;
Meu paletó também tornava-se ideal;
Sob o céu, Musa! Eu fui teu súdito leal;
Puxa vida! A sonhar amores destemidos!

O meu único par de calças tinha furos.
- Pequeno Polegar do sonho ao meu redor
Rimas espalho. Albergo-me à Ursa Maior.
- Os meus astros nos céus rangem frêmitos puros.

Sentado, eu os ouvia, à beira do caminho,
Nas noites de setembro, onde senti tal vinho
O orvalho a rorejar-me as fronte em comoção;

Nervos D'Oiro

Meus nervos, guizos de oiro a tilintar
Cantam-me n'alma a estranha sinfonia
Da volúpia, da mágoa e da alegria,
Que me faz rir e que me faz chorar!

Em meu corpo fremente, sem cessar,
Agito os guizos de oiro da folia!
A Quimera, a Loucura, a Fantasia,
Num rubro turbilhão sinto-As passar!

O coração, numa imperial oferta.
Ergo-o ao alto! E, sobre a minha mão,
É uma rosa de púrpura, entreaberta!

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