Prosa Poética

Prelúdio

Prelúdio
 
Dizem-me eles que estou parado no tempo
errado e mais que desamparado
que tenho somente que esperar um pouco mais 
para que o homem certo 
se renove e ouse chegar
todo por inteiro ao topo do mundo 
aquele que é valente 
o bastante para conquistar todo o isotopo
que eclode no prelúdio da poesia desdita
e perdida no núcleo de uma vida
que nunca se molesta
pois é nobre e nunca se contesta

Ventos e marés

Nos ventos e marés
 
Saio por aí navegando por esses rios
meu Tejo,teu Sena,o mesmo Tamisa
tanto faz, tanto mar
salgado ou doce eu quero,
velejemos até onde o fascínio 
dócil de um oceano imenso
perpectue nossas aventuras marinhas 
em Bolama,Haiti ou na Cidade Velha
e em todos os portos por aí apinhados 
e ardentes de vida
Amesterdan,Antuérpia ou Lisboa,
revigorados de beleza

Malfadado

O leito não guarda seus sonhos.

Está ao seu lado.

“Ei, lindo. Bom dia!”

Responda.

Nada quer ser palavra.

Estagna a beleza.

 

Em que você quer ser reduzido?

Lembre-se.

Tic.

Sorri.

Tac.

Aponta o três.

Desmorona em si.

Não consegue acordar de verdade.

 

Sem título

*

Eu cresci e o mar já não é o que era. Só quando sorris eu posso ser a rainha da minha desgraça de ser feliz.

Preciso de um relógio que bata ao contrário. Talvez assim não sinta mais a falta dos momentos que vivi sem ti.

Conto os anos pelos dedos, o coração vai aguentando.

O começo de uma jornada mais longa que eu pode possuir-me. Já me esqueci do som da chuva a cair, só a tua respiração me entra pelos ouvidos.

Se ficar, não será pelo cansaço. Sei que as minhas asas dormem longe. O meu único desejo é olhar-te apenas.

Sem título

*

Não gosto quando saímos de casa juntos mas depois tu vais para um lado e eu para outro e beijamo-nos na rua. Não me leves a mal, sabes que gosto dos teus beijos e tremo toda só de pensar nos teus lábios, mas não gosto quando tenho de te beijar na rua.

As pessoas não têm de estar lá nem os cães e as chicletes no chão são feias. Rais parta a vida que é amor. Porquê que vivo num palácio contigo dentro e quando sais de ti resta só o mundo que inventaram? Porquê que não podemos ficar só nós os dois para sempre?

Um engano que morre…

Mergulhar noutro  corpo ,

respirar noutra atmosfera inversa

e voar com todas as aves migratórias

à flor do obscuro desejo, de querer ser

o que nunca fui.

 

 

A aurora desmorona-se de carência,

de outro amor impossível que há-de vir,

dentro a solidão cerca a luz absoluta,

já desponta, um engano que morre…

 

 

Somos condenados ao infinito,

neste chão onde a manhã se esvazia

e a aurora rompe-se.

 

 

Hiberno todas as noite,

e aprendo a secar tudo que escorre

Esperança

Esperança

 

 

 

Quando a guerra chegar

numa manhã cinzenta, de odores pardacentos

vou ver os homens marchar

por caminhos lamacentos

sentindo o ódio jorrar, nos olhos

a raiva e a ira, já sangrentos

e ouvir as mães a chorar

os padres a gritar

que Deus não existe

acreditei que o mundo ia acabar

mas que dia este tão triste!!

 

 A quem posso eu rezar

se já nem Deus existe!!

Onde vou eu reencarnar

... o ódio paira no ar

Quando o tempo

Quando o tempo deixar de ser tempo
E eu estiver adormecido...
Vem me visitar de quando em vez
Olharás para o relógio de ponteiros entorpecidos
De um tempo que não passa...e me deixarás
E nunca voltarás!!... quando eu acordar...
Levantar-me-ei e correrei nos céus ...até que morras também
Se tu não estiveres para me abraçar
Procurarei os braços de alguém
Em busca de acalentar a alma
Que interessa que te tenha deixado
Ou que tenha morrido ...sem te escrever uma carta de amor

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