Prosa Poética

Deixei De Ser O Que Nunca Fui

Devo ter começado a morrer numa qualquer tarde de melancolia estival,
Da qual me lembro agora por já a haver esquecido nos meandros da memória...
Quando foi que deixei de ser Eu para me tornar nisto que sou?
Nesta coisa amorfa e sem ânimo, nesta viscosidade apática?
Não me consigo lembrar de quando tudo começou a acabar...
Sei que agora vai acabando, lentamente, sumindo-se como areia por entre os dedos!
É tão estranha esta sensação de me olhar ao espelho e não mais me reconhecer,

Sismo do Amor

Venho aqui despir-me e banhar-me em ti,

entre o Sol da noite e a luz do amanhecer.

Devora-me se puderes,

devora a minha urgência de transformante de tudo em nada,

ser o não ser do ser desejo em atmosfera inflamável.

 

Respira-me o ar inteiro da paixão até nada,

apenas vapor da pele,

rasga-me o recatado beijo de lábios,

em quatro lábios na partitura da ânsia,

verte-me em pedra húmida até á margem

do remanso afecto.

Vadiagem

Corpo de texto vadio em espírito leve,

memória incessante da vagabundagem dos pensamentos,

onde o sangue queima a veia do poema.

 

Quanta vadiagem cifra os sonhos quentes dos Amantes,

quanta nudez toma a liberdade de ti,

quantas paixões navegam aqui,

digo-te hoje que o desejo vagueia no vazio

da onda fantasma da ilusão.

 

São rasgões estranhos entre o temor e o espanto,

suturados de Amor na respiração anfíbia da Aurora,

Mente inquieta

A poesia faz eco na floresta do meu sentir,

por um segundo parece-me que outras vozes

do meu sentir  clamam e teimam silenciar esta inquietude,

minha mente inquieta é muro denso ao chamamento.

 

Mais uma mancha de metáforas invadem o meu poema,

o mar de Amor que sempre desejei parir,

nasce aqui em papel branco de mim,

Onde a mente inquieta

navega nas sílabas do verbo Amar.

 

Foste tu, mente inquieta,

O Amor permanece inominado.

Viajo contra o destino, mas

a favor das correntes e o

meu Amor permanece inominado.

 

Sonho-te-me mais leve que a chuva,

sem peso e sem corpo.

Purifico o sangue em cinzas de árvore,

Onde a sombra que nos limita,

estremece perante o Amor inominado.

 

Estas são as forças que prefiro desconhecer,

dizem, que estou longe da travessia dos teus braços,

dos teus lábios, que conduzem o espectral fervor,

"O Poema da Queda"

Desci do Céu por ti. Quando caíste, as minhas asas também perdi.
Segui, e ao seguir'te descobri, a liberdade do amor na queda.
Infringimos juntos a regra, eu poeta, tu poesia completa.
Meia culpa. A respiração aperta, está perto a queda.

Criados, dois em sintonia, a nossa língua é telepatia.
Tu sabias tudo o que eu sabia, eu sentia o que tu sentias.
Alegrias! A Terra tocámos, e esquecemos o que fomos um dia.
Fôramos outrora um pedaço do Céu. Anjos hoje caídos, sem magia.

Quero-te aqui mais Amante

Quero-te aqui mais amante que as infinitas rosas da língua.

Seremos a corrente da água em fogo batido na argila nua,

uma noite inteira, uma translação inteira do eterno sobre ti,

seremos mais do que Deuses  a vibrar e arder em floresta de chuva,

somos a combustão impossível de dois corpos.

 

Quero-te aqui dentro do fruto da árvore do Jardim,

da espuma de lábios,

bebendo as chamas,

as fúrias,

as ondas,

O Jardim do Éden nos espera

Sonho-te muito…

nas fontes vivas do meu corpo bebo-te.

Imagino-te a renascer nas águas de Amar,

na altitude incandescente do principio.

 

Somos o cântico novo…

beleza rara em mares de segredos,

amo-te poeticamente,

tenho-te para além do que há,

para além da dor da ausência,

para além de mim.

Sei que tendemos para temperaturas de fusão,

translação do Uno Infinito, além-dor.

 

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