Prosa Poética

Perfeito silêncio

Vou deixar quieto
 
o meu silêncio
 
Contentar-me em alegrar a fachada
 
onde deposito plenas gargalhadas
 
embrulhadas no tempo perfeito
 
quando enfeito todas as calmarias
 
debruçadas na ténue luz da manhã
 
que respira escaldando minh’alma
 
escancarada
 
no páteo de tuas cantarias
 
 

Culpado ou inocente

São ternas as noites
e longas as insónias
que fotografo na moldura
de um raio de sol adormecido
entre madrugadas tecidas
em vagas de solidão mareando
o tempo com candura
 
 
- Apetece-me só
permanecer entre teu regaço
imigrando nos alados beijos
que me deixaste em recato
 
- Este é só meu jeito
de dizer
como mergulho nessa luz
abraçando-te num soberbo

Voltar no tempo

Decifra-me se puderes
 
encontra-me neste poema
 
tantas vezes reescrito
 
onde mergulho cada palavra
 
no tempo infiel e proscrito
 
 
Reserva-me todos os murmúrios
 
onde transformamos gargalhadas
 
em versos de prazer inédito
 
alimentando o sinédrio dos meus
 
juízos tão itinerários e frenéticos
 
 

Indumentária furtiva

Recordo tudo com a memória
 
vinculada em mim
 
Engaveto saudades em prateleiras
 
disponíveis no passar dos tempos
 
 
Faculto à liberdade todas as
 
algemas onde imponho
 
cada presídio cativo dentro de mim
 
Deixo pra outros uma
 
parcela de futuro
 
onde não cabe mais
 
a centelha de tempo passado

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