Minha mente é um quadrado
para este mundo desgovernado
que não tem pena
em fazer de seus trilhos soltos
pés cansados, caminhar

Minha mente é uma querença
que pensa quase sempre o bem
espera em Deus a justiça
dos males contrariar

Minha mente desconfiada
pensamentos apenados e gritantes
difíceis, nem tanto em decifrar

Minha mente
terrível aprisionamento
Isso que escrevo
e tanto sentimento
que arde no peito
difícil de relatar

Estamos na era da recompensa, recebendo agrados por nada. O hedonismo como ordem é a nova perspectiva moderna. Estamos indiferentes, uma desordem generalizada. Afirmo sem receio que nossa sociedade venera o thelemismo: façamos o que queremos e o todo é lei. Após a ruptura com a moral e a metafísica, nos sentimos deuses da própria história. Talvez sejamos, mas temos algo mais intrínseco: o complexo de Caim.

calam-se os ventos

calo-me eu

perante a ventania

voam voam

sinuosas aves

(sem suas amarras)

para além das fronteiras

de sua grandeza

vou-me

para o pós-amanhã

onde, lá

constituirei moradia

e raízes futuras

no território da bruma

https://drive.google.com/drive/u/0/my-drive

pode-se imaginar

a gata no cio

a luz no vazio

a travessia no rio

pode-se imaginar

a estrela cadente

a ideia silente

a cigana vidente

pode-se tudo imaginar

mas

na imaginação

se apura somente

sua fração sensata

foi uma aura que persegui quando remontei os temporais; quando converti as minhas angústias em cantigas que trauteava para toda a gente; quando habitei num monturo ornamentado com as minhas imponderações.