Nômades

Os transeuntes da cidade
residem no nomadismo,
vivem sem nenhuma face,
sem casa, sem comodismo.

Eremitas do urbano
transitam na passagem,
enxergam-me como insano,
morrerei sem dar viagem.

Admiro suas astúcias,
gostaria de explorar,
vivo apenas em minúcias,
e sem um todo pra estar.

Eu resido num hospício
chamado medo incessante,
é um crescente edifício
de um sentimento ignorante.

Flor

Órfão de signos
eu ando ametista
um sorriso encantador
polivalente na vida e sem rusga
perfume envolvente
que dá graças a paixão
que convoca o amor
para navegar por rios da graça
eu ando perfeccionista, intimista
minha flor
quero me dar bem com os teus lábios
que me fazem pirraça em apenas admirar
não, não escolhi a dor
escolhi a dificuldade de palmo em palmo
sem desistir
hoje é construção, depois construído
amanhã é escombro
na vilinha que ficou pra trás
oh mortais !

Semblante odioso

Minha inspiração poética
vem perpetuar a dor,
eternizarei antiética
falando seja o que for.

Seja sobre amar o ódio,
seja odiar a esperança,
da côncava vou ao pódio
curvando-me a má bonança.

Gosto da contradição,
amo o que não faz sentido,
inspiro-me na noção
da vida que tenho tido.

QUÍMICA DA ALMA

 

 

 

sou de química feição

conformado na matéria

desde o carbono preponderante

até a maternidade das águas

 

faço dos dias oportunidades

para renovar a alma

e lhe acrescentar as virtudes

que se convertam em êxtase   

 

sou matriz da transmutação

da semente original

e me dobro somente

à predisposição para a vida

 

 

 

 

 

A pobreza será sempre mais rica

No dia que o capital vender sorrisos
o dia de São Nunca veio à tona.
É mais fácil crer no fim do mundo
do que o fim da miséria burguesa.

É mais fácil molharmos os cílios
do que ressecarmos a dor no peito,
É mais fácil cair duro no leito
e não ser nem digno de liberdade.

Da boca ressoa a alma fechada

Nesse estado que me encontro
a poesia não se faz de vítima,
a vítima sou eu e a vida molesta
os versos do sangue depressivo.

Mãos abertas e a boca fechada,
não falo o que quero, mas
escrevo sobre feridas teológicas.
Metafisicamente silencioso…

Sou um sujeito das sombras,
refletindo um mundo problemático.
Deus, se há, é hora de iluminar,
pois sem ti a escuridão é perpétua.

Voando na contramão

A vida vai para frente, ao menos deveria ir. Quando se vive no subterfúgio de sua própria mente, ou nas vis ilusões trancafiadas na angústia, a alma voa para trás. Fracasso continuará sendo seu substantivo mais ingrato. Em vão você tenta, tenta nas míseras chances de se recompor, mas cai. Cai do prédio, cai da cama, cai da vida. Infeliz é o homem caído abandonado pelos céus. Não tem ninguém para te puxar a mão; seja o próprio Ícaro, só que sem um deus para te malograr.

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