Ressuscita-me o silêncio

para sempre Gal
 
Entre complacentes murmúrios o tempo crepita flamejante e altruísta
Encurva-se saudando a manhã que desperta tão saudosa e reformista
Ressuscita-me este silêncio incrustado no parapeito das preces imprevistas
 
Qual bálsamo transcendente duas brisas perfumam essa voz tão pacifista
Na infinita metamorfose de luz fecunda-se um adeus sereno e coreografista
Assim se apascenta cada hora esvoaçando algemada a um sussurro calculista
 

Trovas

Os meus braços balançam
para uma dança sem fim,
o bailares se fincam
nas entranhas do marfim.

*
 
Ensinaram que o poeta
é pra lá de diferente,
é um inútil asceta
que pensa ser indulgente.

*

Sequer os vemos agora

MERIDIANOS DISTANTES

 

 

 

sabemos o que nos releva

somos algas

que nos permeia

e funda nossos terrenos

na orla dos pés...

 

construímos alturas

na borda do chão

como andantes

que obedecem

os meridianos distantes

 

ignoramos a vocação diária

do alvorecer

mas deciframos a matéria

em sua irremediável

e séria aparência

 

A poesia não liberta

Poesia é sobre o leitor,
leitor este que determina,
não só sobre o fulgor,
mas a luz que luzia a vida.

Escrever é se condenar:
algemas afirmam o verso,
estamos presos em um luar
que se míngua em um terço.

Rezaremos então ao sol,
o que se cultiva escriba,
culmina força no farol,
irradia força que fortifica.

 

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