Lado a Lado

Será que não existe ninguém perfeito, nem ninguém imperfeito? Já dizia o poeta Erickson Luna em seu poema: - "Você não é um perfeito canalha porque não existe ninguém perfeito." - Eu já acho que também não existe ninguém imperfeito. Dai pode ser discutido o que significa ser perfeito ou ser imperfeito. Todo humano tem seu lado animal, e todo animal tem seu lado humano. Conheço pessoas que fazem a pose de linha dura, mas tem o coração de manteiga. Também já vi pessoas ao contrario.

Meu caro Vinicius

Meu caro Vinicius

De repente, não mais que de repente...

Vinicius de Moraes

É meu caro Vinicius,

Estavas certo na prédica

De o de repente desatinar

De perder-se de seu amar

Na mais bela forma poética.

 

É meu caro Vinicius,

Esse seu de repente tortura

Vem sempre ao revés

De um chorar do através

Momento póstumo, amargura.

 

É meu caro Vinicius,

Seu vaticinar estava correto,

Pois se fez “da amiga”, distante

Carne Mal-Dita

Não sei se será só minha impressão,
mas este mundo virou um deboche!
Já nem preciso largar um tostão
para eu, guloso!, gozar de um broche.

E eu trago as bolas dos olhos pasmadas
com a luxúria do dobrar do século!
Mulheres não querem já ser amadas,
querem apenas do homem seu espéculo!

E eles dizem, sem pudor, «Pões-me um aço!»
E elas dão o sorriso mas não só.
Apalpam-se e riem com ar devasso,
e vão se devorando sem ter dó!

Vida Em Claro

Chego do emprego tarde a casa,
Venho cansado que nem um cão,
Sinto uma moleza que me arrasa,
Estendo-me ao comprido no colchão.

Porém o sono tarda em pegar,
Coisa que vem sendo recorrente,
Antevejo a insónia a chegar
E trago o cérebro tão dormente!

Dou voltas e revoltas na cama,
Nada há que me faça dormir.
Levanto-me do leito (Que drama!)
E vou à varanda distrair.

Esquiva

Sei! Esses teus olhos esquivos...
Essa tua língua lassa...
Não podiam mais 'star vivos
Nem suportar tal desgraça!

Escorreste por tantas mãos,
Qual enguia já cansada,
Só tiveste afectos vãos,
Não soubeste ser amada.

Puta e reles te chamaram,
E os ouvidos tu tapaste.
Sei que todos te usaram...
Que mil mágoas não choraste!

Lamentos à tua sorte
Partilhaste c'os demais,
Mas mandaram-te à morte
Por pecados capitais.

Rodendros

O Amor rói-me por dentro,
Corrompe-me a seriedade.
Dou por mim obsessivo
E um tanto compulsivo,
Embeiçado em tal simplicidade
Que perco a noção da realidade.

Mas calo-me.
Calo-me e não me revelo.
Guardo todos esses segredos para mim,
Esperando, estupidamente, o outro alguém.
Aguardando que esse alguém tome a iniciativa
Que eu nunca sou capaz de tomar.
E não é por falta de sentimento que não o faço,
Isso é certo!

Fim-de-Tarde

Fumo a vida na ponta de um cigarro,
sorvendo delicadamente a nicotina
que me embala os sentidos.
Não espero nada.
No Príncipe Real reina a tranquilidade costumeira:
Os pássaros voam por sobre a minha cabeça,
passando rentes aos meus pensamentos
que se elevam altos no ar.
Jogam-se baralhos de cartas reformados
enquanto se discute a sueca da crise actual.
Os pombos debicam as migalhas
que algum sénior despojou pelo chão
como que a queimar os últimos cartuchos que lhe restam.

Harmonias Oníricas

Há certas músicas que têm
o condão de me arrancar
do peito o coração onírico
e de o fazer esvoaçar pelo ar,
dependurado nas semínimas
e colcheias dessas tais melodias,
de o fazer subir como um balão de ar quente
a dançar por entre nuvens etéreas,
feitas do algodão mais fino e macio,
feitas do algodão mais doce.
E nessas nuvens, que se constituem
como as almofadas dos meus sonhos
onde recosto a cabeça,
fantasio risos em verdes prados...
E eu pasmo-me assim,

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