A morte do menino poeta

A MORTE DO MENINO POETA

E tu menino, homem, poeta, de olhos cansados escutando os sons roucos, das palavras sem nexo nesta escrita de loucos, neste poema corrido, onde a perseverança é nublada por pensamentos vestidos de negro decantados na desilusão da espera e trajados em crepúsculos pálidos da incerteza. E as frases dos teus poemas jazem vencidas caídas varridas para esse abismo profundo de solidão. E a sorte, essa, amarga e profana até na morte, cai em mergulho profundo, asfixiando-se por entre ais e lamentos numa mortalha lírica coberta por aromas de cedro e de rosa.

A MORTE DA JARARACA

A JARARACA CORREU,
PRA MINHA BARRACA E ENTROU. 
FIQUEI COM PENA DA COBRA,
QUANDO A MATARAM, COITADA!
TAMBÉM POR QUE A BENDITA, 
FOI SE ESCONDER NA BARRACA?
FOI O QUE PENSEI NO MOMENTO,
EM QUE ASSISTI SUA MORTE.
MAS HOJE LAMENTO TANTO...
A SUA FALTA DE SORTE.
COITADA DA POBREZINHA.
NENHUM MAL QUIS NOS FAZER...
LÁ FOI A SUA MORADA, 
O INVASOR DO LUGAR FUI EU.
MAS O MEDO FOI MAIOR...

Almoço protocolar da entrega do Prémio de Literatura da Associação Portuguesa de Escritores

Almoço protocolar da entrega do Prémio de Literatura da Associação Portuguesa de Escritores ano de 1993 - "Atribuído a Agustina Bessa - Luís". Identificação da esquerda para a direita. Prof Dr. Keith Allen, José João Murtinheira Branco, Presidente da Republica Dr. Jorge Sampaio, José Manuel de Carvalho Marques.

DIFERENÇAS

AS VEZES PENSO QUE O MUNDO!
ESTE EM QUE ESTOU VIVENDO.
NÃO É O MESMO QUE EU...
GOSTARIA DE ENCONTRAR =ME A VIVER.
AS PALAVRAS NÃO SÃO AS MESMAS...
QUE QUERO FAZER-ME OUVIR.
TAMBÉM SEI  QUE MUITAS VEZES...
EU... NÃO OS QUERO OUVIR!
MAS NÃO ME IMPORTO .
SEI QUE SOU DIFERENTE.
E ESTA DIFERENÇA,
FAZ  SENTIR-ME,  ESPECIAL.
NÃO QUERO MUDAR O MUNDO!
MAS NÃO QUERO, A NINGUÉM, SER IGUAL!

SONHADOR

UM DIA PENSEI SER POETA.

ACHEI QUE SENDO POETA,

PUDESSE VER...O MUNDO MELHOR!

SENDO POETA, DESCREVERIA O AMOR.

AQUELE QUE FAZ SONHAR.

QUE FAZ AS PERNAS TREMEREM...

A MÃO SUAR!

O AMOR QUE FAZ O CORPO PEDIR,

QUERER SENTIR, O QUE O OUTRO TEM PRA DAR.

SENDO POETA, DESCREVERIA O MAR ,

COM SUAS PRAIAS DESERTAS, ÁGUA CRISTALINA.

OU ATÉ MESMO O BURBURINHO INCESSANTE DE PESSOAS.

DEITADAS AO SOL.

CRIANÇAS NA ÁGUA COM UM PAI A OLHAR,

CUIDANDO, PARA ELA NÃO SE AFOGAR...

Luzes

As luzes da cidade anunciam

O inverno está chegando

E no céu as estrelas esmaecem 

Com medo da escuridão.

Tudo que eu queria era ver aquela estrela

Que perto da lua brilhava

E logo esvoaçava

Na infnita imensidão dos seus olhos.

 

E o som do mar, o som do vento, de nós

Perdeu força

Para o som dos motores

Para o som dos tiros.

Tudo que eu queria era ouvir aquela música

Que diz que o amor

É coisa para profissional.

 

E as arvores, serenas e nobres

caíram

Promessa

Quantos versos te restarão
quando as estrelas se apagarem?
Em busca de qual promessa
tu ainda rezará as mandingas?
Quem haverá de desenhar as rendas
por onde voava o colibri?
Quem, de ti restará?
 
E tudo por quê? 
De onde ressuscitastes esse medo?
Lembrança de tantos amores em vão?
 
E no entanto, poeta, é preciso reviver.
Dispa-se da paúra e descalce o que dirão.

Pages