os cardos da memória
Autor: António Tê Santos on Tuesday, 22 November 2022a poesia sangra os desafetos que caracterizaram a minha existência juvenil; os suplícios narrados pela minha alma ressentida; as minhas atuações extravagantes.
a poesia sangra os desafetos que caracterizaram a minha existência juvenil; os suplícios narrados pela minha alma ressentida; as minhas atuações extravagantes.
são as mãos de pelúcia
as mesmas que degolam
os pássaros
e fartam os nômades
de terra vermelha
por isso
basta-nos espreitar o fôlego
dos viajantes
para ascender à impassível
bandeira oscilante
erguida sem censura
espargida nas alturas
do homem
com uma vontade férrea
de se anelar aos cisnes
e, afoita
desvencilhar-se das carícias
da estrela vespertina
que se distraiu
e foi dormir junto ao portão
de todas as partidas
existe um lugar ávido onde dilacero o infortúnio sempre que escrevo poesia; onde tonifico o meu bem-estar; onde esclareço a sensibilidade através dum apurado raciocínio.
Para todo mal existir,
basta o poder concordar.
Não importa suprimir,
remedir ou dialogar.
Para o erro ser o bem,
basta o mal ser atroz,
retificado por alguém
apto para calar sua voz.
Um dos temas que me despertam o interesse é o preconceito. A natureza humana é curiosa, usamos de artifícios baseados em sua própria primazia para justificarmos nossas mazelas. Escravizamos o outro em nome de uma abstrata nobreza racial. Os colonizadores tinham sobre a ótica do mundo uma lupa, e essa lupa enxergava o outro como formiga, não só enxergava como a exauria com a ‘’luz da razão’’. O pretexto racionalista levou o homem tão romantizado pelas poesias e eras de ouro a cometer pérfidas atrocidades.
O tormento é uma noite fria,
refrescante para a reflexão,
mas ardoroso como lava
que arde muito o coração.
É um bosque sem árvores,
é um pasto sem as vacas,
um vazio de grandes ideais
de melancolia boêmia.
A lua é a companhia,
a taça de vinho, o alicerce;
trechos de Plath ao vento
e a depressão nas linhas.
Isso tem que acabar.
As estrelas são os olhos de Deus?
Ou são órgãos do espaço celeste?
Por acaso de sua brancura emana
láctea nutrição?
Por acaso elas são acesas
por um famigerado acendedor?
Ou serão assim mesmo:
pérolas de marcante fomento?
Será que são flocos de marfim
dispersos no céu altaneiro
a nos guiar
em meio à névoa dos dias?
Sabemos? Sabemos de seus desígnios?
Fato é que elas estão sobre nós: