HÁ O QUE HÁ

 

 

 

há saudade que não se recorde?

 

há mulheres que são de ninguém?

 

há indícios de deserto na solidão dos pântanos?

 

há ternura que desagrade alguém?

 

há escadas para se tocar o abismo?

 

há virtudes que infligem temor?

 

há cores que vazam os olhos?

 

há rios que delimitam o céu?

 

há abrigo na louca paixão?

 

há trevas que contrariem  um olhar?

 

há delícias em lembranças malditas?

 

-há o que há

 

Me Perco

Em busca de mim mesmo

Sempre foi assim

 Com incessante desespero 

Tentando cuidar de mim

A princípio nem notei,

Hoje sei como lutei

Somente para sentir

De tudo que tentei

Acertar desta vez

Então eu errei e

 Muito mais me perdi

O tempo, os ventos e o ar

 Sem cerimônias a passar

Diante do meu existir

Hoje as forças já me faltam

A esperança que tanto falam

 Já fez as malas pra partir

Com meu último desejo

Que nasceu do desespero

Decidi que o recomeço 

ARMADURA

 

 

i.

a sutura do entardecer

consome minhas urgências

com a cáustica volúpia

de degredo ou de dano

ii.

o que não é forma ondulada

me remete à constância

das linhas adivinhadas

que se escoam sem discordância

iii.

minha inadiável iminência

também não se dissolve

como tempestade que tarda

clamando por seus relâmpagos

iv.

desse combalido ditame   

me protege cromada couraça

recobrindo minha pele e espírito

com indevassável membrana

 

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