Bala perdida

As balas, no fim, berrarão.
Vociferará o vinho do corpo,
E o asfalto cansado, apreciará.
No fim, o ferro mais resistente
Perfurará o ferro de dentro:
O essencial vermelho sangue
A nadar nas delícias da morte.
Os apitos irritantes chegam,
Dado o presságio do corpo:
Uma festa; levam o cadáver
Para um local melhor.
Sem dor, medo ou injustiça.
O brinquedo do homem
Dispara ódio e preconceito.
Até quando? Até quando

AFAGO DE AFRODITE

nasce na córnea das sombras
o rufar de planícies sonolentas
sobre
a trilha
dos anjos
vigora nesse instante
uma pausa de fresco silêncio
um acalanto de pedras
soando soando singelas
como uma reverberação
de vozes
no alcance
de meus desassossegos
atingindo num ímpeto
o sopro das pétalas de setembro
(transeuntes ocasionais
dessa elegia)
que
-implacável véu
transborda-se em mim
como um inefável prelúdio
afago afável de afrodite

Futuridade

"uma certa afecção particular, por meio dos discursos, a alma experimenta."
GÓRGIAS, "Elogio de Helena", 414 a. C.

Caligante ou em lai, o númeno ora a Luna (1),
Insciente se ao delubro se ao alcantil (2).
Fenestrando a sofrósina que, exil
De obsoletismo e de húbris, desaduna

A tenebrosidade. Asserida e una,
Qual fora uma hamadríade, que burile,
Paragone, em dianoia e em contracarril.
"Alea iacta est", desde a asir (3) ao que premuna

Sem Mais

Cálida forma de ser
que aprisiona minh'alma
num dilema cruel de  viver
Entre a sede e o transbordar
o melhor de mim encontrar
com o que sei sem saber
Da intensidade que me criou e em minhas
 entranhas  fincou 
a certeza contrária de tudo que sou
Na estrada que se abre 
como cruz de alarde 
sigo em frente sem saber onde vou.
 

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