Auto- Retrato

 

“ Auto-retrato”

 

Sou tudo aquilo que sou, na ambiguidade, nos extremos da vida,

Corpo cansado, atirado, na ira da hipocrisia,

Sou espirito, sou alma, sou sangue, sou rio que corre em mim,

Sou a pele que cobre a dor, sou tudo o que fica no fim…

Sou ansiedade, nas questões que enlaço,

Inconstância, nas respostas que não tenho,

Sou prisão, no meu espaço apertado,

Resentimento

 

“ Resentimento…”

 

Sons que percorrem a mente,

Consomem a sombra da noite,

Levam o corpo deitado,

Deixam-me ali, simplesmente…

 

Deixam a ausência de um sonho,

Refugo de um pesadelo,

Deixam a lágrima que lava,

A mentira que ali me deitou…

Levam-me o dia passado, um momento que não registei,

Formiga

Cores deitadas, são folhas
O verde que cresce renasce
Castanhos novos buscam o sol
Recortes de luz chegam por entre o ar
E o tempo não existe

De repente o sol queima
Mas a pedra é fria
Mata o conforto do descanso
Rompe o silêncio
O movimento sem peso

Pequenos seres chegam
Vêem o enorme com espanto
Desconhecem a sua vida
O seu peso
Os seus sentidos

Buscam mais para si
O seu ser é também um gigante
Que cresce com pequenas dádivas
Um toque, um momento
E segue o seu caminho

*DEBAIXO DAS HERVAS*

Podesse ir eu comtigo que m'encantas
Como um vinho, no pó da terra dura,
Dormir ambos na mesma sepultura,
Entre os braços das hervas e das plantas?

Dormir no mesmo leito, e a mesma cova
Sentir os nossos pallidos abraços,
De noite, quando branca nos espaços,
Nas hervas desmaiasse a lua nova.

E aquellas tristes cousas que disseram
Os meus olhos nos teus, adormecidos,
Dizel-as outra vez, já confundidos
Na poeira d'aquelles que morreram.

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