Seja o que for que esteja no centro do Mundo
Autor: Alberto Caeiro on Monday, 28 January 2013
Seja o que for que esteja no centro do Mundo,
Deu-me o mundo exterior por exemplo de Realidade,
E quando digo "isto é real", mesmo de um sentimento,
Seja o que for que esteja no centro do Mundo,
Deu-me o mundo exterior por exemplo de Realidade,
E quando digo "isto é real", mesmo de um sentimento,
NÃO: Não quero nada.
Já disse que não quero nada.
Não me venham com conclusões!
A única conclusão é morrer.
Não me tragam estéticas!
Não me falem em moral!
Tirem-me daqui a metafísica!
Não me apregoem sistemas completos, não me enfileirem conquistas
Das ciências (das ciências, Deus meu, das ciências!) —
Das ciências, das artes, da civilização moderna!
Que mal fiz eu aos deuses todos?
Se têm a verdade, guardem-na!
Sou um técnico, mas tenho técnica só dentro da técnica.
I
Lisboa á beira-mar, cheia de vistas,
Ó Lisboa das meigas Procissões!
Ó Lisboa de Irmãs e de fadistas!
Ó Lisboa dos lyricos pregões...
Lisboa com o Tejo das Conquistas,
Mais os ossos provaveis de Camões!
Ó Lisboa de marmore, Lisboa!
Quem nunca te viu, não viu coisa boa...
II
N'um paiz nada visinho...
Em Thule até mui distante,
Houve outr'ora um rei farçante,
Um rei amigo de vinho.
Quando sua amante fiel
Mimosa e cheia de graça,
Morreu, deixou-lhe uma taça
Que semelhava um tonel.
Era tamanha a grandeza
Da taça que nada iguala!
--Ficava sempre ao esgotal-a,
El-rei debaixo da mesa.
Quasi sempe ao lusco-fusco,
De noute, até horas mortas,
Folgava, as pernas já tortas,
Este rei velho e patusco!
Criança, certos céus aguçaram minha ótica: todos os caracteres matizaram
minha fisionomia. Os fenômenos me emocionaram. — Hoje, a inflexão eterna
dos momentos e o infinito das matemáticas me perseguem por este mundo
este mundo está cheio
de amores desafortunados
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