Á VISTA D'UM RETRATO

    Amo-te, flôr! Se te amo, Deus que o sabe
    Que o diga a teus irmãos, que o céo povoam,
    E ebrios de gloria canticos entoam
    A quem no mar, na terra e céos não cabe.

    Se te amo, flôr! que o diga o mar--que expelle
    Quanto é dominio, beija humilde a praia:
    Se mal que a lua lá das ondas sáia
    Nas rochas me não vê gemer com elle.

amor em vão

 

Não consumas meu amor

como se fosse

uma jarra de vinho

 

Não me sugues

porque sabes

que no fundo de mim

encontrarás amor

 

Não se deleite

no leite do meu seio

que nosso amor me deu

e que agora

se desfaz em linho

 

Não existe nada

além do fim do amor

 

Talvez uma abóbora

Talvez um pote de nanquim

 

No fim

há somente um sim

sobrou um só

pedaço do coração

o outro foi comido e devorado

beiços lambidos

*ULTIMA PHASE DA VIDA DE D. JUAN*

(AMOR DE COSINHA)

     Afinal D. Juan vinha, hoje, a morrer d'uma indigestão.
     (Palavras d'um grande realista)

Cançado de vãos fogos de Bengalla,
Como Pansa odeei o Pensamento,
E abandonei os ideaes de salla
--Pelo amor da cosinha succulento!

E os meus fortes desejos sensuaes,
--Desejos que hão de dar na morte escura!--
Soluçam só--ó deuses immortaes!
Só pela ama d'um florído cura.

Uma gravura fantástica

Um vulto singular, um fantasma faceto,
Ostenta na cabeça horrivel de esqueleto
Um diadema de lata, - unico enfeite a orná-lo
Sem espora ou ping'lim, monta um pobre cavalo,
Um espectro tambem, rocinante esquelético,
Em baba a desfazer-se como um epitético,
Atravessando o espaço, os dis lá vão levados,
O Infinito a sulcar, como dragões alados.

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