PRESENTIMENTO

    Emilia! não vês a lua
    Como vacilla e fluctua,
    Ora avança, ora recúa,
    E não ha passar d'alli?
    Tu és a imagem d'ella;
    És tão sympathica e bella,
    Meiga e timida, que ao vêl-a
    Me lembra sempre de ti!

    Tu és o botão de rosa
    Que abraçado á mãi formosa
    Só folga, só vive e goza
    N'aquella triste união;
    Treme até de ouvir a aragem
    Passar por entre a folhagem:
    Emilia! tu és a imagem
    Do mais timido botão.

A HERMANN

A HERMANN

Por occasião d'um beneficio a um asylo

    «Conchega a mãi ao peito o filho caro;
    Estende a pomba as azas no seu ninho
          Pelos filhinhos seus.
    Embala o arbusto agreste; o fructo amaro.
    Guia a bussola o nauta em seu caminho,
          Como um dedo de Deus.

A Musa Venal

Musa do meu amor, ó principesca amante,
Quando o inverno chegar, com seus ventos irados
Pelos longos serões, de frio tiritante,
Com que has de acalentar os pésitos gelados?

Tencionas aquecer o colo deslumbrante
Com os raios de luz pelos vidros filtrados?
Tendo a casa vazia e a bolsa agonizante
o ouro vais roubas aos céus iluminados?

Precisas, para obter o triste pão diário,
Fazer de sacristão e de turibulário,
Entoar um Te-Deum, sem crença nem favor,

_Na occazião em que o A. hia ver o Varatojo_.

Meu Amigo, duro Amigo,
Fatal, rígido Banqueiro,
Motivo dos meus pezares,
Herdeiro do meu dinheiro;

Em taes termos me deixaste,
Que sou deste rancho o nôjo;
E co'as lagrimas nos olhos
Parto para o Varatojo;

Por ti filho da pobreza,
Irei ser naquelle mato,
Qual foi São Sebastião,
Não na vida, mas no fato;

Vai tu seguindo a fortuna,
E leva a bandeira alçada,
De tarde na laranginha,
A' noite na Arrenegada;

*Garibaldi*

(Fallecido a 1 de junho de 1882.)

      É morto o _condottiere_, o paladino
      Soldado da rasão e da justiça
      Forasteiro, que o sangue desperdiça
      Nas refregas do tragico destino.

      Genio do bem, suave e peregrino
      Estatua de luz e amor toda massiça
      A cujo aspecto a multidao submissa
      Se agrupa em alvoroço repentino,

      Guerrilheiro da America indomavel
      Espada de Dijon, e da Marsalla,
      De Napoles e Roma inconsolavel!

Oh estações, oh castelos!

Oh estações, oh castelos!
Que alma é sem defeitos?

Eu estudei a alta magia
Do Amor, que nunca sacia.

Saúdo-te toda vez
Que canta o galo gaulês.

Ah! Não terei mais desejos:
Perdi a vida em gracejos.
Tomou-me corpo e alento,
E dispersou meus pensamentos.

Ó estações, ó castelos!

Quando tu partires, enfim
Nada restará de mim.

Ó estações, ó castelos!

Mais alto

Mais alto, sim! mais alto, mais além
Do sonho, onde morar a dor da vida,
Até sair de mim! Ser a Perdida,
A que se não encontra! Aquela a quem

O mundo não conhece por Alguém!
Ser orgulho, ser águia na subida,
Até chegar a ser, entontecida,
Aquela que sonhou o meu desdém!

Mais alto, sim! Mais alto! A Intangível!
Turris Ebúrnea erguida nos espaços,
A rutilante luz dum impossível!

Mais alto, sim! Mais alto! Onde couber
O mal da vida dentro dos meus braços,
Dos meus divinos braços de Mulher!

Amor um Mal que Falta quando Cresce

Aquela fera humana que enriquece
A sua presunçosa tirania
Destas minhas entranhas, onde cria
Amor um mal que falta quando cresce;

Se nela o Céu mostrou (como parece)
Quanto mostrar ao mundo pretendia,
Porque de minha vida se injuria?
Porque de minha morte se enobrece?

Ora, enfim, sublimai vossa vitória,
Senhora, com vencer-me e cativar-me;
Fazei dela no mundo larga história.

Pois, por mais que vos veja atormentar-me,
Já me fico logrando desta glória
De ver que tendes tanta de matar-me.

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