LUZ

 

 

Era noite sombria. Procurou luz para o dirigir. Vislumbrou entre as sombras direção para o seu caminho. Caminhou no rumo da iluminação e, então, se fartou dela. Após saciar-se, permaneceu na morada onde habita desde então: dentro de si...

 

Eu sou

Eu sou hábito
Um habitat
A solução de quem escuta
A marcha solitária e certeira dos cavalos
Um afago, uma consequente cura
Que até tem misericórdia
Dos ratos do porão
Eu sou trato perfeito, a justiça
Em gotas temperadas de quem sabe esperar
Eu sou a paz
De todo aquele que permite abrandar !
Eu sou arte , até o terrível trovão
E sou a flecha que se desvia do alvo planejado
Eu sou árvore frondosa
A madeira do machado
Não permito o alvo da morte
Daqueles bem treinados

A Despedida

 
‘’Meus olhos se fecharão como todos os olhos.

Cruzem-me as mãos.
Quero posar para a morte.
Mas não vos direi “mais luz”
Nem haverá êxtases, eu vos juro.
A paisagem infiel, lenta, confusa,
Será a cinza sem cor, sem cor.
Apenas a cinza sem cor.
Mas antes que venha o silêncio,
Trazei-me o intérprete.
Porque há o nada e o sempre.
Mas trazei-me o intérprete
Antes que venha o silêncio,
E antes que eu vá, como irei,
Sem vos contar o fim.’’ (Antônio P. de Medeiros)

Amar

Eu amo

Uma pronúncia quase perpétua

Em todos os alfabetos possíveis

O que apetece o coração

Ou que talvez não se acredite

Em flechas desgovernadas

Que persistem

Enlutando a proposta

Dias melhores do porvir !

Enclausurado eu canto

Porque na vida não se admira ,

Nem espanto , nem pranto

Suportar a vida sem encanto

Há prazeres tantos a

Apaziguar !

Uma língua universal se concretizará

E destas

Cada palavra em que me abrigo

E tirado de todo mundo

Traição

O ato mais ignóbil de todos:
confiar o coração ao cirurgião
com seu bisturi sujo de almas.
Higiene precária na lâmina
percutindo, veia por veia;
Ele sova a aura inocente,
em problemas, distrações,
ou indulgências da mente.

Magoa o outro e não liga,
pois, pagaram-lhe o preço
da esperança pouco perdida.

Iblis

Não me rebaixo a vós, sou a queda em ideia, não me curvo em tua opressão. Desobediência me goza nos pecados eternos. Não se enfureça contra teu filho, oh! Pai. Nosso jardim é magnificente: o cheiro doce das pétalas que fraga nossos pulmões, a gota d’água que desliza na bela árvore-da-vida. A firme terra que nos sustenta com a graça da natureza, carregando o peso de aguentar todas as formidáveis criaturas.

Vacuidade

É a vacuidade somente,
só há ela e imperfeição.
Imagine a existência,
após, veja o grande vazio.

Observe a potência chegando,
A forma querendo ser viva;
feito a assombração do breu
rugindo ódio no homem daqui.

A vida jaz; medite agora!
Apenas aceite como é;
o nada natural do todo:
— Da calma para todo o seu fim.

 

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