Só - Está a chover...

Está a chover!

Sento-me para escrever

Mas não me apetece escrever nada.

Repito estes versos na cabeça

À espera que algo me apareça,

Uma ideia…

Ainda que disparatada,

Mas nada!

Vazio.

Apenas o cair macio,

Da chuva pegada que em surdina;

Sobre o asfalto vai caindo,

E teimosamente persistindo,

A fazer-se na tarde, uma cortina;

Que o dia pinta de cinzento,

E me enévoa o pensamento,

Com uma densa neblina.

E chove!...

Não uma chuva copiosa,

Destilado...1

Por destino embriagado

Entornei-me pela vida

E quando dela for despejado

Dêem-me um copo à saída.

 

Ébrio demente

Esquecido das gentes

Deambulei vida fora…

Vagueando por bares

Sem rumo nos olhares

De onde caí borda fora.

 

Marinhei em balcões

E voei em balões

De álcool inflados…

Por sopros de pinga

Na noite que finda

Entre copos entornados.

 

Penallty’s bebi

Traçados pedi…

E encontrei-me no chão…

Por qual dilúvio bíblico,

Do Vagabundo...

Quando por fim a Lua acorda

E se espreguiça pelas ruas…

Vagueando te encontra

Nessa noite em que perduras.

 

Pobre Vagabundo

Que tens no tecto do mundo

O tecto do teu Lar…

Que te acolhe a alma,

Perdida,

E por escola te dá a Vida,

Por onde andas a vaguear.

Aprendeste-lhe a dor,

E o sofrimento,

Conheceste-lhe o desalento

E foste ainda mais além…

Cursando letras de amargura

Leste nas linhas da ternura

Que o Amor não é…

De Ninguém.

 

Para Ti

Especialmente para Ti

Pelos gestos que não tive

E que deveria ter tido...

Pelas palavras que te não disse

E que deveria ter-te dito...

 

Pelo eu que não fui

E que deveria ter sido

- E Porque se fui...

Muito melhor poderia ter sido -

 

Pelo que sou,

E não mostrei.

Pelo que tenho

E não te dei.

E porque tonto...

Preciso, não o achei.

 

Não quero mais

Estas palavras caladas,

Que por ti só,

Soam apaixonadas.

E que se morrer..

Mulher - 1

Mulher!...

Bem dita,

que és Terra e flor.

Mulher luz…

Mulher calor.

Amor, Mãe…

Ternura e riso

Fonte de vida,

e esperança

Em folha e fruto,

foste criança;

Mulher agora,

meu improviso…

Verso meu,

razão de ser;

Poema…

que não sei fazer.

Arte de traço preciso…

 

Mulher coragem,

Alicerce!

Vida, que não esmorece;

Raio de luz…

Um sorriso teu.

Mulher plena,

Mulher guerreira

Mulher razão,

Mulher inteira

Olá!...

Olá!

Estou a escrever para Ti.

Tu que estás aí…

É para Ti que estou a escrever.

Para Ti que me estás a ler.

E sabes porquê?

Porque sem nunca te ter falado

Ousaste aqui ter entrado

Querendo me conhecer...

Já me leste nalgum lado,

E de alguma forma te terei “tocado”,

Para que viesses até aqui.

Não sei se te fiz rir ou chorar,

Esquecer algo ou recordar,

Mas vieste…

Por isso escrevo para Ti.

E se queres saber quem eu sou,

Sou alguém irónico e mordaz,

Palavras soltas...

Vou só escrever palavras soltas,

Vou Com elas dar umas voltas,

E Quem sabe por aí possa-me encontrar…

Numa retórica empolgado,

Num romance editado,

Ou numa prece…a rezar!...

Quem sabe não me ache numa esquina,

De um texto sovina,

Sem sentido, sem nexo…

Depois de um traço ou travessão,

Numa carta escrita à mão,

Ou sob um acento circunflexo!…

Talvez sentado no acento de uma rima rica,

Isolado que entre aspas fica,

Ou entre parêntesis numa explicação…

no começo do exercicio

Com quadras leves comecei,

E para os seis versos me voltei,

Neste formato que mais me agrada.

Faço Rimar A/A + B

E também com B, termino C/C,

Numa escrita mais cantada.

Assim, deixo voar o pensamento,

Digo que voa nas asas do vento,

E sai-me outro terceto…

Mas foi só metade ainda

Falta-me outro que finda

Mais este outro sexteto.

 

Ou seja,

Rebolo as palavras na minha mão,

Digo que sim pensando não,

E tenho uma rima a preceito.

Não estou triste, tenho saudade;

1 copo para a noite

Transborda o copo devagarinho

Gota a gota

Que no seu caminho,

Me alimentam a inspiração…

As palavras saem correndo,

A cada copo que vou bebendo,

Dando asas

À imaginação.

 

…e sai um ponto, uma pinta.

Reticências…exclamação!

Mais um copo,

E outro ainda,

E há uma nova finta,

Que o tinto dá

À solidão…

 

...Que como o vento,

Sem graça!

Correndo em surdina.

(Pela memória

Que já me é lassa)

Como uma ténue neblina

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