Gótico

Epitáfio

Há dias em que meu quarto não tem porta
Não desejo ir para lugar algum
Seria bom ter opção mas não tenho

Às vezes me pego questionando
Será que vou morrer aqui dentro?
Sufocada pelo o que não foi dito

Raramente eu abro a janela
Não me sinto muito confortável com a luz
É brilho demais para os meus olhos cansados

Gótico

Gótico

 

No silêncio da noite

Noite soberana

Casta viúva passeia pelas penumbras de sua memória

sombras dançam, entre velhos e novos  o eco lamenta

Ela veste preto, um vestido longo vitoriano

Um vento gélido sussurra segredos antigos, E nas janelas quebradas, a lua se mostra cheia.

Um castelo em ruínas, erguido pelo tempo, Guardião de histórias sombrias, segredos de lamento, nas muralhas de pedra, ecoam tormentos.

Leia-me ou devoro-te

Escrevo para poluir o ar, para esfumaçar como num turíbulo a minha palavra. Sou um padre das liturgias sangrentas. A missa na qual comando, os fiéis são os meus sentidos. O tato demonstra o que espero: tocar-te no ventre dos teus segredos mais íntimos. Ser tão profundo quanto o abissal mar de tua individualidade. Sou uma musa já quase nua para o teu deleite, e para meu desejo, apenas o teu sentir mais puro. Tocarei tua lira d'alma e assim jamais me esquecerá.

Moralmente morto

Cortei meus desejos pulando da janela.
Pingo as lúgubres gotas de uma paixão,
infelizmente afoguei meu amor nela,
e detive quedas por quedas com meu sermão.

Fitaram meu cadavérico moralismo,
enterrado em uma estupidez antiquada,
deram-me o meu velório merecido
soterrando a faca e laminando a alma fraca.

Canção ao Metal Negro

Dedico esta trova fúnebre
A ti todo teu mal caótico
A canção da sombra lúgubre
O teu desejo mais utópico.     
 
Exterminar o que é mais parvo,
Eliminar o que é benévolo,
Protestando com todo garbo,
Escurecendo sendo malévolo.

No bosque invernal te encontro,
Murmurando ódio a esmo,
Esmaecido por vencer o monstro:
O amor que te deu desprezo.

 

 

ARMADURA

 

 

i.

a sutura do entardecer

consome minhas urgências

com a cáustica volúpia

de degredo ou de dano

ii.

o que não é forma ondulada

me remete à constância

das linhas adivinhadas

que se escoam sem discordância

iii.

minha inadiável iminência

também não se dissolve

como tempestade que tarda

clamando por seus relâmpagos

iv.

desse combalido ditame   

me protege cromada couraça

recobrindo minha pele e espírito

com indevassável membrana

 

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