Gótico

Aqueles que pertencem à noite

Um espírito escuro está rondando
Os degraus do local insólito
Rugidos melindrosos crescem aos ouvidos
O inferno quer devorar a maldita alma

Neste hospício as vozes me enlouquecem
Não há nada além dos cantos que fenecem
Obscura chance de fugir, torrente sorte
Enclausurada na parede torpe

Indriso — I

Imortalidade da alma sórdida
É o recurso daquele esquecido
Desistiu da carne sofrida

Porque viveu em inútil suplício
Perambula fora do caixão
Pois, foi encontrado morto no sótão

A realidade de uma vida sequer
vivida, ou uma história de ficção qualquer

Costureira

A costureira mais voraz
Com sua agulha tão profunda
Espeta segredos das pessoas
Ela dá uma nova roupagem
Para a mentira adornada
Estética mais bela e fugaz
Para o homem verdadeiro
Esquecido em solitude
O sangue pinga no véu
Impetuosamente ela
Entende: para a virtude
Sorrir, manchas devem
Existir

TOTEM

 

 

se fosse

ou se não fosse bem assim

-o que seria de mim?

sem definição que me assegurasse

um lugar cativo no panteão

dos poetas ascetas...

-mais ou menos poderia

me contentar com menos?

-com a parte magra do suíno

-com o arfar das narinas

-com as crinas do cavalo-alado?

sub-reptício

(mas não exaurido)

repartido em gomos cítricos

reduzido ao orgíaco frenesi

das sombras oscilantes

que me rodeiam

como um tênue totem diáfano

 

 

ETERNA DINASTIA

 

 

 

bem-vindos ao lar

à casa dos sonhos conquistados

por todos os carentes de alento

que têm a pretensão de conquistar

um planeta inteiro

do tamanho de uma ousadia

ou de um recente triunfo: -um trunfo!

que dispõe de todos os bens imateriais

em ordem uniforme

e adquirem rótulos de ouro

conforme seu significado de valor

seu relevante acréscimo

às dóceis intenções subjetivas

aos principais objetivos declarados

de acolher em um mesmo lugar 

O Náufrago Penoso

Ocultaria de ossos sangrentos,
a cerimônia festiva dos ventos.
Oh, amada, sua ausência carrega
toneladas de amargor, que nega
a apoteose da paixão, o véu
queimado do suicídio do céu;
tempestade opaca, sussurra
o murmúrio da voz que urra
o tormento dos mares sombrios.
Semeada a vontade de amar, só
o coração morre, a forca do nó,
eliminou a possível retratação
da remota ideia de sublimação.

O Poema do Morto

No caixão putrefato vou ficar
no ritmo da terra no corpo,
o ditirambo da inércia, matar.
Coveiro consolando o morto,
da funéria sombra etérea,
o divino esqueceu o cadáver
quando deu fruto a matéria;
Mornou a água do precaver,
ignorou as súplicas do filho
do fatídico Cristo-martírio.
   
Eu deveria sair do mausoléu,
mas, deixei os vermes no fel.
Caminhar no ritmo que a terra
sucumbiu minha veste férrea;
Coagir meu coração a bater
na força de bomba a crescer.

O último conto

Lágrima gelada faz derreter
o anjo da última lápide.
Gesso enfraquecido na força
da batida do último corvo,
na vertigem de sua asa,
a última morte;
nas rosas do último defunto,
o fim da primeira saudade.
Velório do assombro sujeito,
da sexta casa à direita,
donde residia a garota do
véu, aquela que faleceu
jurando vingança.
O pássaro morto no tapete
foi a prova do crime,
ninguém entendeu como,
mas assim foi o funesto fim.
Ela tinha o sonho do matrimônio,

A Lindeza do Feio

Salvai-os da fuga do belo,
fisionômicos abutres
vivos, perpetuam o zelo
dos noctívagos alvitres;
da estética mundana.

Gárgula esdrúxula em caça
de carne podre, morgado
pela antípoda do bem; crassa.  
Revirado o pecado expurgado.

Feiura belíssima dos mancos,
que perambulam o sublime
na estrada longa dos francos.
Ao deleite da agonia, exprime.

Baila-vos na grotesca dança,
no inferno da terra carnal,
ímpio esqueleto balança...
Na festa da beleza banal.

 

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