Canção

Um Mar Sem Ti

Um mar sem ti
bate-o o vazio
do canto búzio
que nunca ouvi.
Beijam rochas
mesmas espumas
e jamais perfumas
como tuas coxas

Arrastando vão
num tanto não pouco
tudo do meu corpo
até o meu coração.
Às forças levado é
pelas ondas tuas
sem igual, nuas
que mais ninguém vê

Um nada igual á mim
de versos de sereias
escritos nas areias
do teu amor que advim.
A cada grão evapora
no passeio das ondas
de saudades fecundas
por ti, nesta igual hora

Mesa Que Canta Penúrias

D'estômago gordo de secura
Partilham a água que é dádiva
E o sagrado pão que posto é...
Na Mesa Que Canta Penúrias

Vestida de triste pele nua
Lábios secos molham sorrisos
Prefulgem esperanças nos "dizos"
Da Ngola, que a dor não atenua
E ainda preparado vê-se crua
Triste, posto é... comidas frias
Na Mesa Que Canta Penúrias

António Vicente Aposiopese

Cantando a dor da Somália!

* "Dizos"=dentes. Língua nacional Angolana (Kimbundo)

Cantam Arcanjos

Tocam sinos de te ver chegar
Cantam Arcanjos a sua vinda
Jubilam as mãos que te querem pegar
Tua presença move e faz nova vida
No coração de quem te quer tanto amar
No teu seio achou-sé a alma perdida
E milagrosa felicidade vieste dar
Nesta data em que belo cantou teu vagido
Mudaste a vida de muitos, o mundo !

António Vicente Aposiopese

Manuela

Minha linda de negros cabelos
Torne a minha noite bela
Acenda a luz desta vela
...que se fortifique nossos elos...
Sê breve enquanto frescos, grelos
Estão tão verdes nesta viela
Mais linda que tu, Manuela
É o par dos teus tornozelos

António Vicente Aposiopese

Camafeu*

Camafeu. Camafeu...
Que lembranças trazem em seu eu?
Que sonhos tardios pelo tempo
Escondidos neste momento... 

Ágata Branca... Coralina
E o poderoso Ônix ...
Gemas coloridas inertes da partida

Com suave doce de Marzipã
O Broche se faz entalhe do dia.

Mas este meu, é feito...
De pele, sangue e dor...
Simbologia antiga 
Onde a pedra moldada 

É o meu sentir condizente com a vida!

F.G.

Vou cantar com as cigarras

Vou cantar com as cigarras
Toda vida recua-lo o tempo
Restituir a paz das nossas terras
Com cantados verso a limpo

Vou cantar com as cigarras
Fazer-tê abandonar o seu atento
Segura, deixar-te-ei entre as minhas garras
Sem vez alguma ao relento

Vou cantar com as cigarras
Deixar-te em quarentena de
sentimentos
E de jubilo farás suas farras
Que trazem a nossa infância c'os sons dos ventos

António Vicente Aposiopese

Me farei breve e caminhante

Disse-vos eu que:
Espereis por mim...
Perdeu-se um dentre vós
Cargo meu não é levar-vos ao fim
Só unidos seremos nós...

Fresco está o prado entre vossos pés
Comeis tranquilamente
Água está no silêncio dos sopés
Me farei breve e caminhante...

António Vicente Aposiopese

18/03/13

Pages