Prosa Poética

Sede Infinita

Jaz ali inerte
 
em quarto crescente
 
expectante
 
essa lua
 
desfolhada em mil raios de luz
 
que roubei à noite cintilante
 
procurando afectos extravagantes
 
elucidativos deste meu mundo fulgurante
 
impregnado de doações ilimitadas de
 
de carinho flamejante
 
 
Senti só no corpo
 

Quando o silêncio bate à porta

Quando o silêncio bate à porta
 
asseguro-me feliz
 
das leves brisas
 
que teu perfume importa
 
soprando em convergências
 
sem demais interferências
 
do tempo
 
varrido no restolho de uma
 
fogueira ainda crepitando nos ventos
 
 
Quando o silêncio bate à porta
 
empunho todas as emoções
 

Perfil casual

– Meto a foice aos ventos
 
corto o tempo assobiando
 
palavras em contos sentimentais
 
porque em mim se afogam
 
emoções vislumbradas em
 
proverbiais pensamentos
 
que escrevo ao cair
 
a tarde
 
onde mora minha ansiedade
 
esfarrapada,escorregadia
 
sem mais eminentes lamentos
 

Saí por aí

Saí pra sonhar
 
regressei nos teus exclamados
 
cânticos de vida
 
juntei todas as travessuras
 
decantadas na bagunça
 
do tempo
 
envolvi palavras dóceis
 
no mesmo dicionário
 
onde reescrevo cada instante
 
de um instante distraído onde
 
mora nosso destino
 
visionário e delirante

Caminhando na noite

Vou a sós
 
caminhando na noite
 
transpirando todo
 
meu tempero poético
 
onde laivos
 
de chuva regam de mansinho
 
cada dobra de tempo que se
 
esvai, multiplicando nossa fé
 
engolindo esperanças
 
suspirando cada cantiga
 
que se descalça em alvoradas
 
de encanto, confidências
 

Unânimidade

Solta-se aqui
 
uma pétala de rosa
 
solitária
 
como se soltam nos ventos
 
sedosas brisas num tempo
 
onde compartilhamos
 
promessas
 
existências e fragrâncias
 
reflectidas na sonoridade
 
do horizonte que foge
 
em silêncios  coesos
 
enrroscados  a cada gentil perdão
 

Ao Mendigo...

Ao mendigo...

Já não se perguntam porque não conseguem chorar
Secaram-se-lhes as lágrimas no desespero dos seus sonhos
Creio que até já nem conseguem viver
Vagueiam no delírio das ilusões perdidas
Caminham na solidão das suas imperfeições
Assustam-se com possíveis confrontações
E se calhar até já nem querem ouvir
Nem sorrir
Esgotam os dias no refúgio de leitos improvisados
Debaixo de pontes e outros lugares assim
Esqueceram quem são
Ou pretendem não lembrar
Já não alimentam a ideia de voltar à vida
À vida real
Preferem continuar ausentes
E não voltar a sonhar
Acordados

AC

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