Prosa Poética

Tudo passa...

Tudo passa...
 
Disseram-me ontem
tudo passa
abri então as mãos
pra ver se entre os dedos
minha vida por ali se desenlaça
num laço onde tudo se acaba
esvaziada pelo ar quente
deste imenso verão
que tão tarde de tanto se espreguiçar
não há meio de evaporar
entre tantos sofridos nós confessados
e atados a tudo que se desata enfim
 
Passou por fim
a mesma calma maresia

Ao abandono

Ao abandono
 
Gravito no escuro,
enquanto procuro
no breu da vida
acender um fósforo
que ilumine as sombras
que transitam
pelos armários e cabides
em todos os lugares
fatalmente encurralados
onde afinal nunca
me acharás
ou eu provavelmente
até nunca me esconderei
 
Será que alguém
qual prodígio desta vida imensa
simule a tua voz, o mesmo sorriso

OXALÁ EU TOMARA (do meu livro de imaginar)

Oxalá fosse mar para nas areias brancas finas me [entranhar e acordar] (acabar)
Oxalá fosse homem para uma família e preocupações parentais arranjar
Tomara ser humano para os extra terrestres caírem na Janela do meu sótão
Tomara ser maior para poder os remédios adoentar nas minhas mãos de anão
...
Mas nem o oxalá nem o tomara fazem por ser o que fosse
Nem no mar se fez o homem que apenas humano sonha maior

Poema da liberdade

Poema da liberdade
 
Vai meu poema
assim tão rápido 
te reproduzas livre
nesta inusitada e errante
palavra ressurgida
na manhã que incandescente
desfalece
na metáfora resignada 
de um poema tão farto
 
Vai e maquilha-me
o tempo
tão grato que me escorre
entre as mãos
como a vida tantas vezes insubordinada
tão navegada na correnteza
de um rio sem água

Deflagração

Deflagração
 
Parei pra pensar
resisti até alcançar
parei até pra sentir
e assim continuei 
até te amar
Felicitei a vida
indo por ti inventar
tantas plenas palavras
desinibidas e recentemente
lapidadas na compadecida
imortalidade da verdade destemida
 
Parei pra chorar
e encontrei acometida
depois de soletrar e colorir
até teu canto onde me fui

Inolvidável

Inolvidável
 
Uma simples dúvida prende-me
em duas corteses palavras 
como um beijo saliente se desprende
já sem asas no meu
sentir confidente
 
Lá no infinito horizonte 
repleto de um magnifico
imaginário erigido
existirei desesperadamente
como esse ser incontestável
que me segura a vida
inimputável no degredo
que me impus hoje sereno aceitar
 

O céu chorou comigo...

O céu chorou comigo...
 
Sei de alguém que partiu
e o céu chorou comigo
sei de alguém que muito amou 
elevem-se todos os estandarte da alegria
sei de alguém que se despediu de nós, 
bailemos até que a madrugada
de novo se recoste neste destino
desafortunado
para que a saudade se exprima
ao chegar ao infinito dos céus 
e lá me confesse inaudito
o meu compromisso com Deus 
a mesma Fé tamanha, silenciosa

NA POESIA

                        NA POESIA

32                    Na poesia,

               Eu encontro paz e alegria;

                          Na poesia...

                      Eu crio melodia.

                          Na poesia,

          Eu penteio  o cabelo de Sansão;

                          Na poesia...

                     Eu crio fantasia.

           Ando no caminho com Abraão;

                         Na poesia,

            Eu canto o cântico de Salomão...

               Na poesia, eu canto,

              Em Cantares de Salomão.

                        Na poesia,

         Eu invento o caminho do vento...

            O vento não é nada mais,

             Que o ar em movimento;

         Eu invento o caminho do vento.

                         Na poesia,

         Eu corro a caneta lentamente;

             Só o papel é que sente...

                         Na poesia,

     Meu coração bate constantemente;

               Na poesia, faço magia... 

                   Na poesia,

                  Eu te invento...

             Descrevo como você é!

                  Até invoco a sua fé.

                         Na poesia,

                     Erótico, exótico;

            Na poesia, prosa, ou geral;

              É uma magia sem igual.

               Na poesia, eu invento...

                 O caminho do vento;

                          Eu invento!

 

Madalena Cordeiro...

 

14/10/2014............................CARIACICA-ES.......22:30 h

 

 

 

Projectar...

Projectar a vida
 
Podemos reviver aqui
nossas quânticas semelhanças
ou em outros solos férteis
projectar sôfregos
cada cálice perpétuo de vida
infinitamente expurgada
pela doce alvorada
que em minhas loucas
correrias
acabará por deságuar
no areópago sagrado
das palavras marginais
por ti hoje decifradas
 
Podemos até chegar
onde nunca foi

Delicada chuva...

Delicada chuva...
 
Ontem pisámos cada integridade contida
nos grãos de areia
desfalecidos entre
tantas solidões sofridas
e arrastadas onde desmoronam
esta palavras impressas no coração
 
Ontem, depois de sair de mim
algemei-me em tuas mãos 
já sofridas e recordadas
no canto da esperança
por cumprir ainda hoje
na íntegra,
sempre sóbria e mais rendida ao
que nos sacia e redime

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