Prosa Poética

Tempo interminável

A minha promessa é poesia com dores,
 
grávida de desejos
 
suspensa num cálice adocicado pelas tuas lágrimas
 
eternamente grato pela história que hoje escrevemos num livro
 
palmilhado de sabores e saberes,
 
vitórias e derrotas precipitadas na orla de um queixume
 
sempre alimentadas sempre amadas,sempre nossas…
 
entre tu e eu, neste tempo fugaz e implacável
 

Brincar de Viver

Aprendemos a brincar de “vida” muito cedo. Tudo começa com o primeiro “não”. Choramos, apelamos; imploramos aos deuses maiores a volta do mundo perdido. Não tem volta. Nascemos. A partir desse ponto somos obrigados a brincar de viver. Regras, deveres, uniformes, horários, cálculos, Sobotta, tese de doutorado! As brincadeiras ficam cada vez mais sérias. Depois vêm as recompensas: Casa grande, carro do ano, família, passeios de finais de semana, whisky triplamente filtrado! Um brinde a todos nós que nunca aprenderemos a brincar.

Flutuando

 
 
Evapora-se o olfato pela noite
 
quebrantada na paisagem perfumada
 
dos teus olhos
 
espalham-se consoladas as labaredas
 
trémulas que inundam a fogueira dos nossos amores
 
quando restam no tempo a fartura constante
 
no seio dilacerado nos nossos beijos
 
no hálito fresco de cada madrugada
 

Um resto de alívio

Um resto de alívio
 
 
Perdi meu júbilo
 
num pranto de horas sem cadências
 
nem distâncias tragadas
 
na lonjura das noites sepultadas em mim
 
 
Brado meu desespero em prenúncios e medos
 
sem revezes nem descansos
 
apenas eu…acudindo-me sôfrego
 
na dor que meu coração enluta
 
 
Conduz-me plácido

Pela estrada fora...

Pela estrada fora...
 
e provavelmente em outro espaço do tempo
viveremos cada lua e cada brilho de sol 
como quem não fita 
nem mais entende
percorrendo sempre a mesma estrada,
aquela estrada 
onde os nossos passos 
deslizam sem cessar ao compasso
cauteloso perdido entre dois caminhos
sem erros impossíveis
nem fracassos admissíveis
FC

Entre margens

Entre margens
 
Então, deixa somente
que o vento corra por nós
e entregue no tempo que cede
uma brevidade lânguida e súbita 
nas gotas de chuva que caem
 
colorindo teu galope atado
ao corcel louco desenlaçando
o uivar dos ventos
florescentes errantes
decapitados entre margens
desprendidas ao acaso
 
entre rios dançantes que ressoam
e ressoam famintos por atingir 

As leis do silêncio

As Leis do silêncio - aos meus amigos, todos
 
E será aqui que se constroem hinos 
e versos gloriosos,
mais que toda a subtileza humilde
onde algemamos nossas paixões
imensas
saudades tantas 
sem se revelar qualquer segredo
edificado na sabedoria arquitectónica
onde as pontes que nos unem às margens
aos afectos
aos desejos e existências
sem leis nem silêncios perpétuos
por fim

Perdidos no tempo

Perdidos no tempo
 
Neste presente ou futuro
sou o livro que lês
as palavras que discurso neste modesto
e intempestivo feixe de luz
maravilhado na fronteira inacabada
entre o sol e a lua
dissolvidos, insânos 
sem espanto 
contendo nossas mãos 
vazias com um pouco de nada
 
construímos valores magnos
implementamos leis e princípios 
com deveres, saberes e sabores intemporais

Aos Ares

Entre o espaço vago, os dedos enlaçam o que encontram. A ventania começou. Meu peito é tanque em ebulição. Abastece-se daquilo que faz os cabelos das moças invadir os rostos desavisados dos que seguem atrás. Aditivo de Afrodite. O perfume. Enquanto os fios chicoteiam minha barba, o aroma impregna. Aproximo meu rosto. Castigo afável. Mesmo sendo o único momento do dia em que receberei algum afeto despretensioso, seguirei mais feliz para o meu espaço em branco.

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