Saudade

Ranchinho De Sapé

Tapera velha ranchinho Lá do sertão

Que toca o meu coração

Quando me lembro de que por La eu vivi

Hoje a saudade me devora

Não sei por que deixei tudo e fui embora

Hoje já não sou feliz vivendo aqui

 

Tapera velha ranchinho Lá do sertão

Aonde vivi com meus pais e meus irmãos

Deixei tudo e vim morar na cidade

Trabalhava duro enfrentando o sol quente

Tudo ficou guardado na minha mente

Hoje o que restou foi somente a saudade

 

Pela manhã levantava bem cedinho

Havia orvalho pelo caminho

Saudade

Ainda não a entendi bem

Não sei o que descreve

Nem aquilo que quer dizer

Apenas que a sinto,

Talvez no coração ou fora dele

Ou talvez em lugar nenhum

Mas certamente na ausência

Das memórias coloridas da minha infância,

Da brisa leve e refrescante que toca o meu rosto,

Do silêncio taciturno que ronda a minha alma,

Do luar melancólico e exuberante que transborda do céu,

Dos suaves e crepitantes sons das cordas de um violino,

Recordações

Levantei-me suavemente,

Quase sem dar por mim iniciei a minha jornada

Com os pés assentes na terra e o olhar pregado no céu

Caminhei sentindo a brisa por entre os meus cabelos

E os raios de sol a beijarem a minha pele

Olhei de novo à minha volta

E vi a vida a florir

Ouvi o riso das crianças

As lamentações dos perdidos nas encruzilhadas

E até as saudações dos altivos,

Senti a nostalgia no rosto carcomido dos velhinhos

A fragrância perfumada das folhas de Outono

Apenas palavras soltas

Palavras soltas

Ideias loucas, vãs e carregadas de memórias

Memórias de tempos já idos e jamais reencontrados

Olhando serenamente, sentindo-me cristalizar

No quadro ceifado pelas mãos da minha filha

Revejo o olhar cansado e amargo

Do tempo em mim nunca perdido.

Noite molhada,

Céu ensombrado de tempestade e revolto em águas mil

Noite apenas sentida e não vivida

Peço-te a benção, Terra Mãe

Neste Natal esquecido nas brumas da memória

E vivido eternamente pelo meu ser

Afago

Apenas afago

Ternuras abraçadas no teu olhar

Pensamento que fugaz foge no seu etéreo caminho

Carícias perdidas no tempo por passar

Na ponta dos meus dedos percorre imensa a saudade

Memórias transparentes de sonhos por viver

E jamais apagados na bruma da noite

O teu olhar transbordante de vida e cor em mim pousou

E o canto singelo do pássaro

Ecoou na minha alma de ninguém

Um raio de sol cintilante

Minha coragem de viver afagou

Tua amargura em mim pousou

Longínqua memória

Naquela distante esquina

 

Onde a morte encontra a vida,

 

Olhei o flagrante rosto de um velho

 

Mil rios sussurrantes salpicavam o seu olhar

Inebriante de cores infindas

As suas rugas exaltavam a dor

Que de mãos dadas comigo percorreram o caminho,

E na noite mais escura da minha alma

Abracei o mundo estendido no efémero sol

Que o meu sonho suavemente desenhou

Sentindo apenas o cristalino som que me preenche

Pages