Tristeza

O silêncio que tudo diz

O silêncio sempre foi uma lei
Era uma espécie de verruga
Onde cada cutucada, uma praga
Gritava sob as entranhas d’alma
Passaram décadas e milênios
As necroses foram aumentando

‘’Enquanto guardei silêncio, consumiram-se os meus ossos pelo meu bramido durante o dia todo.’’

O sol me congela em sua fervorosa
Resplandecência

Jazigo das rosas

Onde ela será sepultada
Não haverá cova
Nem terra a sucumbir
Sua fúnebre homenagem
Será perpétua
Nenhuma gota da chuva
Lavará sua tristeza
O homem ignorante
néscio homem ignorante
cortará sua raiz
Nenhuma mosca na entranha
E um dia não perdoará
Sem compaixão na barganha  
Muito menos vingará
A rosa que sangra eternamente
E Deus não convalesce
Ao jardim das tristezas obscuras

E QUANDO OUVIRDES DE GUERRAS E DE RUMORES DE GUERRAS...

Além desse pranto e ranger de dentes
Som de conflito e gritos dos aflitos
Declarações, reuniões e tensões
Nos desacordos entre presidentes
 
Uma geopolítica apocalíptica
Novos rumores de uma velha história
Tratados ou acordos de falsa paz
E uma nova guerra bastarda e inglória!
 
Ver 'belas cenas' de destruição
Sendo aplaudidas e financiadas
Sentir medo, torcer e ouvir um lado
Mas só quem vence nos traz a versão!

OM

O universo é uma morada, e a lógica o abriga.
O alinhamento dos planetas reside o sistema solar.
O planeta está abrigando os seres pensantes,
Mas os pensantes estão abrigando castas;
O mais forte aprisiona homens em batalhões.
O batalhão guerrilha contra forças inferiores a ele.
O julgado ‘’inferior’’ precisa defender seu povo,
Matando seus próprios soldados se necessário.
O sem-teto vê o lampejo de uma bala ao céu,

A árvore cai

Permaneço atrofiado em minha literatura. As raízes dos aforismos não convencem mais as mudas do jardim bem cuidado; as regagens dos parágrafos jocosos não mais hidratam à terra seca da base. Meus troncos estão grunhindo em sons quebradiços como cacos ao chão, e minhas folhas afoitas fugiram dos meus ombros.

Fobia Social

Enclausurado pelo medo insalubre,
sentenciado em prisão domiciliar.
Acusado pelo frio na espinha:
Multidões me deixam doente.

Não desisto das coisas, não mesmo,
mas acontece que não há sossego;
Minha alma vai a cem por hora,   
na contramão d'rosa que aflora.
Um jardim  tão lindo me espera,
mas o buque de flores me enterra.
 
O medo de enfrentar é uma enchente,
E minhas lágrimas dão mar sofrente.
Todos na vida debruçam em potência,
enquanto o solitário, sangra clemência.

Elegia a Deus

Quem na penumbra de um pensamento
Poderia imaginar tal desalento tão cinza,
No abismo surreal de espíritos sofrendo
Por ausência da graça que nos finda.

Os galhos ressecaram por sua ida sombria
Os pássaros enrijeceram e caíram no poço,
Mas nossos pecados voam na névoa tão fria
E iram os animais tão selvagens de teu fosso.

Tais criaturas viveram sob o jugo da moral
Agora fervelham no sangue negro tão vil.
Dançam no adágio do ódio, o pecado mortal,
A ordem deificada no buraco escuro e febril.

Íngreme

Eu guardo a esmeralda
O bem mais valioso que tenho   
Polida na tristeza, e acabada
Nas sujeiras que sustenho.

Impureza que degrada a fonte
Como verniz que fede a madeira
Sou o fétido sem-teto do afronte
Em algoz de tal maneira.

Sem moral, sem nada a declarar
Se preso eu fosse, a pena é liberdade
Estando acorrentado na corrente do negar
Juiz ou réu, indiferente à tal felicidade.

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