Tristeza

Introversão

Sozinho na mente
Livre na torrente
Rasgo mais um papel
Na voz do meu tropel
Oriundo ao pensamento
Contendo um lamento
No oceano desalento
De desgraça faço água
A exaurir poema ao nada
Inspiração da terra
Vem da luz etérea
No poema do além
Renasço um porém
Morte e vil angústia
Mas virtude ou penúria

 

Dualismo

Um corpo não subsiste sem alma.
Uma andorinha não cessa a gula
Sem um voo pernicioso e calmo.
Um homem sem fé é um cadáver,
E um cadáver com fé, é a fome colérica.
Eis a suma das criaturas terrenas:
Um eterno dualismo sem razão.
Se beleza há, o feio míngua sua forma;
Dançar nos adágios da causalidade
É o que resta ao homem extenuado,
Porque vida e a morte justaposto bailam.
Sorte e azar procedem o augúrio póstumo.

O silêncio que tudo diz

O silêncio sempre foi uma lei
Era uma espécie de verruga
Onde cada cutucada, uma praga
Gritava sob as entranhas d’alma
Passaram décadas e milênios
As necroses foram aumentando

‘’Enquanto guardei silêncio, consumiram-se os meus ossos pelo meu bramido durante o dia todo.’’

O sol me congela em sua fervorosa
Resplandecência

Jazigo das rosas

Onde ela será sepultada
Não haverá cova
Nem terra a sucumbir
Sua fúnebre homenagem
Será perpétua
Nenhuma gota da chuva
Lavará sua tristeza
O homem ignorante
néscio homem ignorante
cortará sua raiz
Nenhuma mosca na entranha
E um dia não perdoará
Sem compaixão na barganha  
Muito menos vingará
A rosa que sangra eternamente
E Deus não convalesce
Ao jardim das tristezas obscuras

E QUANDO OUVIRDES DE GUERRAS E DE RUMORES DE GUERRAS...

Além desse pranto e ranger de dentes
Som de conflito e gritos dos aflitos
Declarações, reuniões e tensões
Nos desacordos entre presidentes
 
Uma geopolítica apocalíptica
Novos rumores de uma velha história
Tratados ou acordos de falsa paz
E uma nova guerra bastarda e inglória!
 
Ver 'belas cenas' de destruição
Sendo aplaudidas e financiadas
Sentir medo, torcer e ouvir um lado
Mas só quem vence nos traz a versão!

OM

O universo é uma morada, e a lógica o abriga.
O alinhamento dos planetas reside o sistema solar.
O planeta está abrigando os seres pensantes,
Mas os pensantes estão abrigando castas;
O mais forte aprisiona homens em batalhões.
O batalhão guerrilha contra forças inferiores a ele.
O julgado ‘’inferior’’ precisa defender seu povo,
Matando seus próprios soldados se necessário.
O sem-teto vê o lampejo de uma bala ao céu,

A árvore cai

Permaneço atrofiado em minha literatura. As raízes dos aforismos não convencem mais as mudas do jardim bem cuidado; as regagens dos parágrafos jocosos não mais hidratam à terra seca da base. Meus troncos estão grunhindo em sons quebradiços como cacos ao chão, e minhas folhas afoitas fugiram dos meus ombros.

Fobia Social

Enclausurado pelo medo insalubre,
sentenciado em prisão domiciliar.
Acusado pelo frio na espinha:
Multidões me deixam doente.

Não desisto das coisas, não mesmo,
mas acontece que não há sossego;
Minha alma vai a cem por hora,   
na contramão d'rosa que aflora.
Um jardim  tão lindo me espera,
mas o buque de flores me enterra.
 
O medo de enfrentar é uma enchente,
E minhas lágrimas dão mar sofrente.
Todos na vida debruçam em potência,
enquanto o solitário, sangra clemência.

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