Tristeza

Vazio de Natureza

Contrário a Alberto Caeiro, sinto-me vazio,
Vazio não só das partes do meu corpo, mas da Natureza,
E da vida, reles vida consumindo-me as raízes,
E dos preâmbulos da morte regando a lama,
E de tudo que nada planta sentido.
Sou um homem da Realidade constante,
Sou um relógio sedimentando o fim,
Sinto-me vazio de Natureza e temporalmente perdido.
Uma muda do século passado,
Já não há jardineiro fitando-me,

O melhor de mim

Será que estou dando o melhor de mim?
Deve ser insuficiente o esforço.
Tem gente que sangra até o fim;
se exaurem, já eu, torço.

Embarco na ínfima sorte atípica,
com o acaso caso-me por aí:
a vida por hora não é fatídica,
nem aqui, nem daí.

Viajo sem responsabilidade,
viajo a cem neurônios por segundo,
e penso numa possibilidade:
dou conta desse mundo?

Voando na contramão

A vida vai para frente, ao menos deveria ir. Quando se vive no subterfúgio de sua própria mente, ou nas vis ilusões trancafiadas na angústia, a alma voa para trás. Fracasso continuará sendo seu substantivo mais ingrato. Em vão você tenta, tenta nas míseras chances de se recompor, mas cai. Cai do prédio, cai da cama, cai da vida. Infeliz é o homem caído abandonado pelos céus. Não tem ninguém para te puxar a mão; seja o próprio Ícaro, só que sem um deus para te malograr.

Sentimentos

O sentimento a flor
da pele me faz real.
Ele me faz contrapor
o sentido mais leal:
minha reles intuição.
Odeio sentir demais,
são como as dinamites,
mas com o pavio curto:
explodindo abruptamente,
e os destroços eu furto,
com a reles intuição
recolho meus limites.

Pergunto à morte

Sobre como será a minha morte?
Prefiro pensar como doerá,
sucumbirei sozinho e sem suporte?
Ou será que dormirei numa cova?
Será então que o pessimismo some?
E não mais escreverei sobre a póstuma
asneira já então lida com porre?
Na garganta nós tomaremos a hóstia
engolida na língua do pecado? 
Só espero, enfim, respirar a opaca,
vil, maldita e sórdida dona morte.

 

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