Tristeza

Deserto

No peito está só o pó,
Apenas areando a dor a Jó.
O grão pálido ao mesmo tempo
Quente.
Estou por dentro cremando
A minha mente
Se ao pó retornará o homem,
Ignoro: retornei há tempos e
sozinho.
Desolado no meu deserto
O vento já não há e a chuva
Secou-se para sempre

Nostalgia morta

A nostalgia é uma mentira
Adornamos de boas lembranças
Só que no interior há o caos
Memórias são em tom de arco-íris
Pinceladas pela falta da lívida cor
Recordamos de um filme sem o final
O roteiro é quebrado e o diretor sumiu
Uma límpida tristeza é lembrar
Detesto o que já foi e o que virá
Sinto-me preso em um torreão
Escuro, gélido e sem soldados
E o ataque ao fronte é a nostalgia
Minha infância abaixo dos laranjais

vento do leste

Lágrimas de chumbo, em caras inocentes.
A orquestra de fundo é uma bomba viva,
Corre sangue quente em todas as frentes
E não se vislumbra uma pomba activa.
Impera a loucura em todas as mentes,
A orquestra de fundo é uma bomba viva.

Vento do Leste, transporta loucuras
E os braços de Deus, não abraçam ninguém.
Em discursos vãos, apenas vês juras
De apostar em armas e nada as detém,
Nem mesmo o choro das crianças puras.
E os braços de Deus, não abraçam ninguém.

A lua que se apaga

Entre a lua, o céu
Nadou no mar
E na terra afundou
Teu brilho alunar
O sol se queimou
Pôs a lua a deitar
Jazida sozinha...
Na madrugada
A tentar sonhar
Ao onírico pesadelo
Esta é a história dela
Por analogia é natural
A obsessão tão vil,
Uma história tão brutal
Da lua que ele enterra

 

Cansaço

Estou cansado, mas espere
Não de mim, mas da tristeza.
O subterfúgio que fenece
A amálgama da beleza.

Sou grato por tentar sorrir,
Bater meus pés na terra...
Só que lá os grãos infectam,
E brota uma lágrima e outra...

Penso ‘’nuvens devem ser’’,
Mas a chuva é interna,
O tempo é ruim de se ter
Quando ela parece eterna.

Suicídio

Deixo a carta para ninguém.
Enforquei-me com estrelas.
O ar imbuído de cinzas,
Das nuvens desce a corda
Perscrutando meu  braço.
O tecido da realidade rasga,
Francamente… recortado.
Membros bailando o vento:
A pictórica imagem do fim.
Os pássaros depenaram,
O horizonte agora estreito,
Meu voo já não é nu 
E a vida espremida ao peito.

Bom senso

Vomitarei as regras do bom senso
Na descarga das normas vigentes
Todos sabem o que é e como ser
Mas ninguém ensina a azia de ter;
A ideia paira no ar, é toda abstrata
Só que ao chegar o diferente
Todos se sufocam com sua ambiguidade
Se a intuição dela rege como devo agir
Por que as tonturas causadas por eles
Nauseiam os limites do meu ir e vir?
Pouco importa o que ensinam
Se as paredes da realidade quebram

Escultura

Os olhos cheios de lágrimas
Calcificando o sentimento puro,
Da criança ao velho estúpido, e
Escultando rigidez por toda vida.
A obra ríspida para o público:
Apenas um homem comum.
A venda para inocentes,
Paga com ressentimentos.
Exposição aberta, peito fechado.
Segue-se o museu humano,
Uma espécie extinta por ódio,
Ignorada pela arte e altiva
Pela pequenez.

Lágrimas

As lágrimas decaindo sem parar,
E chuviscando lamentos na terra.
Ó lavas dramáticas e molhadas,  
Por melancólicos dedos cansados.
Secando na várzea jovem, a pluma,
Uma pluma negra a ciscar o fogo:
Sem cor e desolada ao voar:
Ventando sua morta nostalgia.

 

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