Aeroporto de sombras

Há sombras de aviões altos no chão espelhado
e, nos pés, sinto a fúria trepidante dos voos
rasgados (rasantes!) das memórias inventadas
em sonhos que ainda viajam pela minha cabeça.

Por vezes, paro no meio dos degraus
das escadas que elevam os viajantes à partida;
olho à volta e é como se sorvesse cada gesto demorado,
cada medo inconfessado, cada arfar de saudade
incontida no olhar húmido de tanta gente.

Outras vezes, se paro, vejo-te. E imagino que me sorris.

SECREÇÕES SECRETAS

Solto expurgos da memória
Porque a mágoa sempre fica,
Desamores e revoltas
São as secreções da vida.

Não há bodas,
Não há festas,
Não há prêmios,
Não há nada,
E não existe mal pior
Do que a solidão
Dessa estrada.

Tal qual um intenso corrimento
As lágrimas da dor vão escorrendo,
Nunca ouvi que houve remédio
Pra esse tipo de tormento.

Dessa vez não foi bacilo,
Não foi nem mesmo o tricomonas,
Dessa vez foi o vacilo
De querer e não ser dona.

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