Vacuidade

É a vacuidade somente,
só há ela e imperfeição.
Imagine a existência,
após, veja o grande vazio.

Observe a potência chegando,
A forma querendo ser viva;
feito a assombração do breu
rugindo ódio no homem daqui.

A vida jaz; medite agora!
Apenas aceite como é;
o nada natural do todo:
— Da calma para todo o seu fim.

 

Íngreme

Eu guardo a esmeralda
O bem mais valioso que tenho   
Polida na tristeza, e acabada
Nas sujeiras que sustenho.

Impureza que degrada a fonte
Como verniz que fede a madeira
Sou o fétido sem-teto do afronte
Em algoz de tal maneira.

Sem moral, sem nada a declarar
Se preso eu fosse, a pena é liberdade
Estando acorrentado na corrente do negar
Juiz ou réu, indiferente à tal felicidade.

Ossa Coronata

Inconstância das grandes metas
é um elástico pronto a romper,
a mentira que vai e vem, destrói!
Ter titubeado aos instintos, corrói!
Meus ossos ruindo no sacrilégio
que eu mesmo atenazo: Quebre!
Por favor, quebre, não a mim,
mas a impermanência ilusória;
o cervical que sustenta o templo
das mil e uma enganações do ego.

VERÃO VERANEIO

 

 

i.                                                                                                                                                               

se outrora o verão

fosse anfitrião deste tempo

e se houvesse um mínimo

de acalanto e  mimo

decerto não seria coadjuvante

 

ii.

seria protagonista

[com êxito e alento]

do plácido encanto da paisagem

que instaurou o disperso sereno

antes que se condensasse  

sobre folhas improváveis

 

iii.

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