MULER

MULHER

 

Quando tudo é pouco

E o que se é não chega

Pergunta-se o Deus onde falhou,

Pobre diabo

Ignorante de si mesmo,

E tu,

Nasces de ti

Sem te teres por amparo

E choras de amor.

 

Quando tudo é pouco

E o que se é não chega

És montanha onde dormem os ecos

De cegas súplicas perdidas

Sedentas de agradecer em sorriso.

Fazes das mãos melodia,

És o soar que cuida,

Pele alcova de milagres.

 

Quando tudo é pouco

E o que se é não chega

NIRVANA

Por que falas?

Por que falas comigo?

Nada entendo do teu linguajar.

Se choras,

Choro contigo;

Se sorris,

Palpito em alegria;

Aos teus convites,

Só sei dizer que sim.

 

Acertar o meu passo ao teu

Sentar-me nas tuas esperas

Estar sempre em ti

É o que me faz feliz.

 

Escolheste-me e eu só sei ser tua.

 

ESCURIDÃO

ESCURIDÃO

 

Chegou o dia,

Foi a maré viva que o anunciou

Trazia na espuma acordes de alucinação

Fragmentos do canto da unidade primordial

Qual coro trágico

Senhor das nuances do destino.

 

A manhã engalanou-se

O cheiro verde da campina

Bordou em bilro a luz mãe do derramar da terra,

No ar bailou difusa a exaltação da vida

Sorriram os frutos nas máscaras de vermelho.

Juntos segredavam em entusiasmo descarado:

— Chegou o dia.

 

HEDONISMO

HEDONISMO

 

Só por maldade

Se pode negar o vermelho à maça

Qual voz rouca suavemente arrastada

Que pede à mão cuidado na colheita.

 

Assim fez Eva,

O seu corpo entornou-se em luz

Que delicadamente beijou os olhos de Adão

Que sem saberem já suplicavam beleza.

 

Deus, já velho, virou a cara

Procurou reminiscências do arrepio

Provocado pelo frenesim das células

Mas só encontrou despojos

De guerras, pragas e castigos.

 

Olhos de vidro não choram

MIDAS

MIDAS

 

No tempo

Em que as coisas eram o que eram

A naturalidade acontecia naturalmente

A noite era o adormecer do dia

E o primeiro raio de sol

O campeão das corridas à velocidade da luz.

 

As coisas eram o que eram

Sem razão nem porquê

A simplicidade,

No sentido simples da simplicidade,

Era a essência do choro sobressaltado do rio

Era a paciência da planície

Na intermitência da sua vontade.

 

Quando as coisas eram o que eram

Não havia sujidade,

ADRO

ADRO

 

Ainda é noite nos meus olhos,

O sol teima em arrancar-me à morte

A que me entrego em esperança fingida.

 

A indiferença das vontades prisioneiras do conteúdo dos sacos de plástico

Que o corpo carrega contente

Como extensões com que a natureza o dotou

Castiga as tentativas de me arrancar ao degredo.

 

Acabou a missa,

As almas benzidas fundiram-se com o bafo a álcool,

Eu assisto ao arraial consciente da minha transparência.

Não pequei menos na renúncia ao copo de vinho

soneto

Deixa em meu leito teu corpo cansado
Das horas aprazíveis que vivemos
Na ilha de lençóis, que desfizemos
Por amor, com raiz de aço forjado.

És lua, és luar, se às escondidas
Despes o manto que te cobre o corpo,
És o sol, se descobres o teu rosto,
És mulher e possuis toque de Midas.

Se me tocas, por certo não sou oiro.
Posso ser tudo aquilo que quiseres,
Escolhi-te entre todas as mulheres,

Aos meus olhos és mais do que tesoiro.
Tocas-me e como abelha beija a flor,
Transformas desafecto em puro amor.

Nostalgia

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                                           Deixe-me ficar assim

                                            No meu universo,sem rastros

                                            Sem o verso, sem ti, sem mim

                                            Apague tudo, não quero nem traços.

 

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