1.
observo a flor
como quem fita o fulgor
de uma chama viva
sob a dócil bruma da manhã
2.
fantasia de humana feição
adorna seu contorno
natureza resoluta
que lhe constitui a beleza
3.
mas, se é flor apenas
-munida de sonhos
é o delírio que lhe sonha:
devaneio de sua vertigem
sem hoje
não há postergar:
haverá ontem no mais tardar?
sem agora
não há o que falar:
somente o rigor das horas...
caberá desta feita
um aclame?
ou render-se ao rumor dos ventos?
que prevaleça então
o repúdio
a todo mal que ofusca a razão...
valoriza-se o todo inteiro
não as minúcias
das partes ignoradas
sabe-se da serenidade
dos ventos
e atribui-se lonjuras
aos que desconhecem
os vendavais
de nossa mente ilusória
que resiste à erosão do tempo
com lampejos de solidez
no âmbito da efemeridade
de todos os eventos
instaurou-se
o verbo
dito ao reverso
de forma lacônica
pois
em nome do pai
fundou-se o ato
criativo
delegando-se
porém
à nossa própria
conduta
o dano ou êxito
desta questão
sou aquele ser susceptível
ao que pressente
na pele
nas córneas
nas orelhas
em todo o trato com a vida
sou indício
de uma dor aguerrida
tão sofrida
tão volúvel
que mal se encaixa
nesta minha lida
são ideias
as treliças do homem?
são atalhos
os percursos da paz?
são agrícolas
as flores urbanas?
são vaidades
os fundamentos do mundo?
quando me solicitam
os passos
sigo à salvo entre escarpas
e labirintos
rumo à eternidade
percorro uma variedade
de descaminhos
que me trarão
outros tantas direções
além desta, irrevogável...
Eu sinto nas minhas mãos
as coisas desvanecendo
como poeira cósmica.
Percebo nas existências
efêmeras meu desejo,
a vontade de voar
seja no cosmo ou então,
o desejo de limpar
a poeira da sujeira
póstuma.