Soneto

Outono

Adoro o outono! Um poema de boas-vindas.

          Outono

 

Chegou o outono, pleno de cor !

De folhagem de arco-iris, trajado !

Já chora a brisa lamento de dor !

Tapete no chão, de folhas, bordado !

 

O sol, moribundo pousa sobre o mar,

Desfalece ! Solta a noite e o luar !

O mar, lancinante em seu marulhar,

Vem bater na areia para a torturar.

 

Amo o outono ! Traz-me nostalgia...

Vem-me à memória tempos de criança

Quando cada dia era fantasia !

 

Mar ! Meu mar

             Mar ! Meu mar

 

Mar ! Meu mar ! Companheiro de horas vagas...

Confidente de anseios e saudade !

Cúmplice de alegrias e verdade

Submersas na espuma das tuas vagas !

 

Mar! Meu mar ! Com gaivotas sobre as fragas

Que voam a dançar, suavidade ,

Balouçando consigo a liberdade,

No sereno bater das suas asas !

 

Mar ! Meu mar ! Vou olhar-te e repousar

Das lides...das lutas que a vida traz

Porque ouvir teu rugir, já sinto paz !

 

Mar ! Meu mar ! Azul e imenso mar !

Visão do céu

               Visão do céu

Sinto em ti pardal, lá do alto ramo,

A alegria que sentes em viver.

Tens p'ra ti todo o céu azul, que  amo,

Eu, não tenho mais que o chão p'ra viver !

 

Cerro os olhos ! Teu voo p'ra mim tomo.

Voo livre p'los céus... sem me perder !

Vai comigo fantasia, que eu chamo,

Bato asas...perco o mundo...sem o ter.

 

Tu, pardal, és feliz sem o saber !

Tens o mundo p'ra ti, sem o pedir !

Sempre o quis  e  só o posso sentir !

 

Se  pudesse pelos teus olhos ver

Reis, resmas e repúblicas.

Reis e resmas, rezas reviradas no regime reverencial!...
Onde há raios de riqueza no ringue, há rivalidades!
E nas reviravoltas o revel não rendeu-se ao real!
Rumo à ruma de ruínas e rosnadas de requinte rente. 
 
Nas repúblicas a resenha é de requeimar!
No rádio, o ruído é de raciocínio rápido
Raridade é realizar o resultado! Ou repor sem replicar
E à renque de renda repartida: reflita sobre o rádio.
 
Ou a nossa récua irá resvalar! E, sem recursos

O Soneto dos Cigarros

Dois corações num tudo surgido do nada!
Visionários! De todos os lotes de lugares-comuns...
Duma maneira espantosa e mal-educada
Os dois corações num tufo aflito! Uma espada!...
 
Duas bocas de dentaduras de dentes de nada!
Desesperadas! Na ilusão. A valer de vento...
Na maneira marginal das bocas desbocadas!
O Romancista colorindo o mar de tormentos
 
Dois cigarros e um compromisso de hora marcada.

Lá Se Ia!

Lá se ia! Manquejando e sobrevivendo
O pão de cada dia era fruto da sorte
Lá se ia! No marasmo de sua evolução
O cansaço de sua espécie era sinal da morte
 
Mas lá se ia!... Obumbrado. No sereno da noite
Nunca sabia (No que o acaso lhe resultaria)
Oceano! A vastidão que comprovava o que não conhecia
E talvez nunca ninguém seria... Mas lá se ia!...
 
Pudera o homem ser o oceano um dia
E nascer de seu erro uma nova tentativa

O Arcano da Coruja

Ouviu-se falar em noite cinzenta
Do vôo, como num risco! da coruja...
Certo animal traz notícias sedentas!
Ainda mais sobre a fortíssima chuva
 
Vem num tom de augúrio exuberante!...
Linda ave dos convés da natureza viva
Que por trás de todo o seu charme elegante
Pousa daqui ali! Aquém e além, definitiva!
 
- Sinal da forte chuva é que não deve ser!
E aquelas asas leves e rápidas da fiel coruja

Letargia

    Letargia

 

A tarde é escaldante, é um brasio !

Já as avezinhas emudeceram !

Procuram nas ramagens o alivio

E ao calor do sol já sucumbiram !

 

A vida esmorece em brando armistício

Entre bichos, que em paz adormeceram !

Tudo entorpece ! O espaço está vazio

De risos, de murmúrios, que calaram !

 

Horas prazenteiras, de letargia !

Dormentes, de doce monotonia ,

Mais a doce brisa que vem do campo !

 

Tempo quieto, esquecendo o porvir !

Mundo parado, sem querer seguir !

Injustica

        INJUSTIÇA

 

Há nuvens no olhar entristecido

Do povo desprotegido. Há descrença !

Coração apertado, endurecido.

Já falta espaço onde caiba esp'rança.

 

Gente que ao sol deu seu corpo fecundo.

Aos ricos banqueiros, de< confiança >, 

Deu os trocos, suados ! Sem cuidado.

Que afinal,  são obreiros da desgraça !

 

Senhores de aparência tão distinta !

Rosto sério !!! Elegância definida...

Ébrios de sabedoria...infinita !

 

Estes, de ambição vil e desmedida,

Retrato da morte

Temos  visto a guerra e a morte em direto, vindo de Gaza. Tenho visto também.

 

     Retrato da morte

 

A morte chega ao vivo lá de longe !

Vê-se a mortífera bomba deflagrar.

Espalha-se o terror !!! Quem pode foge !

Entre pó, fumo e sangue, ouço gritar.

 

Grito talvez de mãe que o filho beije,

A quem ness' hora a sorte foi faltar.

Ou por que há quem a paz nunca deseje.

Paz...que a insensatez lhe foi negar !

 

Na crença de que a guerra faz a paz,

Crença torpe , falsa que jamais muda,

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