Espero que não se vá
Autor: Reirazinho on Wednesday, 10 May 2023E nesta semana sobre cadáveres
escrevi, com os máximos detalhes
experimentei estar sobre os cárceres,
porém sozinho, pressinto seus males.
E nesta semana sobre cadáveres
escrevi, com os máximos detalhes
experimentei estar sobre os cárceres,
porém sozinho, pressinto seus males.
Eu vivo num constante azedume
Onde o amor não me consome,
Aqui, sozinho preso no cume,
Aqui, a tristeza que não some.
A monocromia me descende,
No preto e branco postergo,
Sem cor nem luz que acende
Uma vida boa no meu termo.
Sou retrato sem o reflexo,
Notas de versos em branco,
Quem me vê fica perplexo
Lendo o poema jamais brando.
Queria falar sobre belas coisas,
mas a minha voz grita na feiura,
canta e diz com uma forte gastura:
morro na mudez das vidas afoitas?
Reencarnarei afundado na miséria,
sinto angústias de vidas de outrora,
barqueiro da água negra à fora?
Quiçá Poseidon da seca matéria?
Martirizado e Jó vai de alicerce,
ensina-me, sofredor de tristeza,
ensina o ensaísta duma torpeza
a brilhar na escuridão que me enferme.
Contrário a Alberto Caeiro, sinto-me vazio,
Vazio não só das partes do meu corpo, mas da Natureza,
E da vida, reles vida consumindo-me as raízes,
E dos preâmbulos da morte regando a lama,
E de tudo que nada planta sentido.
Sou um homem da Realidade constante,
Sou um relógio sedimentando o fim,
Sinto-me vazio de Natureza e temporalmente perdido.
Uma muda do século passado,
Já não há jardineiro fitando-me,
Pausa nas atividades e contemplando a morte (ou possível morte).
Uma pessoa na qual faz a diferença
hoje visitou o hospital,
viu provavelmente tua vida passar aos olhos,
e a família vê o anjo da esperança guardando-a.
Será que estou dando o melhor de mim?
Deve ser insuficiente o esforço.
Tem gente que sangra até o fim;
se exaurem, já eu, torço.
Embarco na ínfima sorte atípica,
com o acaso caso-me por aí:
a vida por hora não é fatídica,
nem aqui, nem daí.
Viajo sem responsabilidade,
viajo a cem neurônios por segundo,
e penso numa possibilidade:
dou conta desse mundo?
A vida vai para frente, ao menos deveria ir. Quando se vive no subterfúgio de sua própria mente, ou nas vis ilusões trancafiadas na angústia, a alma voa para trás. Fracasso continuará sendo seu substantivo mais ingrato. Em vão você tenta, tenta nas míseras chances de se recompor, mas cai. Cai do prédio, cai da cama, cai da vida. Infeliz é o homem caído abandonado pelos céus. Não tem ninguém para te puxar a mão; seja o próprio Ícaro, só que sem um deus para te malograr.
O sentimento a flor
da pele me faz real.
Ele me faz contrapor
o sentido mais leal:
minha reles intuição.
Odeio sentir demais,
são como as dinamites,
mas com o pavio curto:
explodindo abruptamente,
e os destroços eu furto,
com a reles intuição
recolho meus limites.