CREPUSCULAR
Autor: Camilo Pessanha on Saturday, 5 January 2013
Pedi-te a fé, Senhor! pedi-te a graça,
Mas não te curvas nunca, p'ra me ouvir.
Tudo acaba no mundo... tudo passa,
Mas só meu mal se foi e torna a vir.
Não busco a morte com arma ou veneno,
Mas emfim póde vir quando quizer.
Eu estarei de pé, firme e sereno,
Sorrir-lhe-hei até, quando vier.
Tristes vaidades d'este pobre mundo!
Já me parecem taes como ellas são:
Tristes mizerias deste mar sem fundo.
Mama.
Eu quero ser de prata.
Filho,
Terás muito frio.
Mama.
Eu quero ser de água.
Filho,
Terás muito frio.
Mama.
Borda-me em teu travesseiro.
Isso sim!
Agora mesmo!
Terret, lustrat, agit proserpiua, Luna, Diana, Ima, supernas,
feras, sceptro, fulgore, sagitta.
(Distico de Hieronim)
Hontem fui atravez dos arvoredos,
--Os bons carvalhos épicos rugosos!--
Com _ella_, como dous novos esposos,
--E a lua então contou-nos mil segredos!--
Ella vinha estreitada contra mim--
E atravez das veredas seculares,
Dava a lua umas sombras singulares
Á sua alva botinha de setim!...
Como é amargo e bom, no inverno, junto ao lar,
Sentindo consumir a madeira que fuma,
Saudosas ilusões de outrora recordar,
Ouvindo os carrilhões bimbalhando na bruma.
Como o sino é feliz! Vèlhinho vigoroso,
Tem notas de crustak na conservada guela,
Fazendo retinir seu timbre religioso,
Como n'uma guarita a voz da sentinela!
Quanta a mim, a minh'alma está rachada, e quando
Procura uma canção desferir, povoando
O ar frio da noite, a sua voz exangue